tag:blogger.com,1999:blog-608168162547935792024-03-13T20:15:24.298-07:00Contos e Crônicas Guga Pierobom"Todos os escritores são vaidosos, egocêntricos e ociosos, e bem no fundo de seus motivos jaz um mistério."
George OrwellGuga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.comBlogger27125tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-33754677347751546532011-12-18T17:32:00.000-08:002011-12-18T17:32:31.449-08:00Cigarro<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Um salão de
festas vazio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Foi usado na
noite anterior, então há muitos tocos de cigarro e copos descartáveis e alguns
objetos pessoais perdidos, esquecidos ou deixados, espalhados pelo piso de
parquet.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Um faxineiro
limpava tranquilamente aquela bagunça. Ainda sentia um perfume que flutuava
invisível no ar e sentia o cheiro de cigarros já fumados e de bebida velha e de
salgadinhos, e então sente um forte odor de cigarro que supera todos os outros
cheiros.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O faxineiro
observou ao redor e descobriu, no lado oposto do salão e deitado num cinzeiro
de mármore, um cigarro aceso queimando por conta própria. Não estava lá há um
segundo, mas agora estava, com anéis de fumaça azulada elevando-se em ritmo de
dança no ar, formando círculos e semicírculos até desaparecerem no nada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ele se
aproximou e viu lábios de batom vermelho tatuados no filtro branco. A imagem de
uma bela mulher, antiga habitante de seus sonhos carnais, lhe assaltou a mente:
o vestido vermelho, justo e longo percorrendo suas curvas e as teias de cabelos
negros fazendo carícias nos ombros nus ao passo que a face da musa onírica é um
espaço vazio habitado somente pelos lábios vermelhos de batom.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O faxineiro
fitou o cigarro por um momento, repousado em seu leito de mármore, como
excalibur um dia repousou na lápide do rei até que um herdeiro digno fosse
reclamá-la. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Um pouco
desconfiado, voltou à sua faxina. A vassoura deslizando sobre o parquet,
fazendo pequenos montes de lixo por todos os cantos e uma camada de pó
transparente, que coloria-se de areia ao contrastar com os focos de raios
solares que penetravam pelas janelas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Começou a
limpar os vários cinzeiros espalhados pelas mesas, tendo o cuidado de evitar O
cinzeiro, onde aquele cigarro queimava sem consumir-se por completo e sem se
apagar, coisa que normalmente acontece em poucos minutos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
As outras
mesas já estavam todas limpas, a louça lavada e o piso encerado. Faltava aquela
mesa, envolta por fumaça azul que parecia tomar forma de um longo dedo
indicador, convidando-o a se aproximar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ele postou-se
a uma distância que julgou ser segura, de pé, com os antebraços apoiados no
cabo da vassoura, e limitou-se a vigiar os lábios vermelhos como se fossem
escapar num piscar de olhos. Aquele formato sensual o atraía como um câncer
disfarçado no prazer, uma doença implacável convocando o anjo ceifador a roubar
a vida de um corpo terminal.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Os raios
solares começaram a abandonar as janelas e o salão foi sendo aos poucos
mergulhado na penumbra. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Os móveis e
as paredes e sua vassoura e seus braços foram sendo tragados pela escuridão, e
restava a ponta em brasa do cigarro beijado pela musa sem face.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Não podia
mais suportar ver a marca de batom continuar a desaparecer. Desesperou-se!
Queria morrer. Não! Implorava pela morte, se esta estava impregnada naqueles
lábios em forma de um veneno irresistivelmente, inegavelmente, devastadoramente
prazeroso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Correu em
direção à brasa e sem hesitar uma fração de segundo tomou o cigarro entre seus
dedos e beijou longamente os lábios vermelhos numa amarga e inesgotável tragada.
Devolveu o cigarro a seu catre cinzento, e foi embora, sem conseguir expelir de
volta a fumaça azulada que inundaria perpetuamente seus pulmões.</div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-25708988067871226042011-09-10T16:15:00.000-07:002011-09-10T16:15:06.792-07:00Pagamento em Chumbo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O lugar era
sujo e fedorento como uma toca de ratos. Passei a porta dupla e escorei-me numa
viga, logo à entrada, e comecei a enrolar um cigarro. Havia cinco homens no
pequeno saloon — três jogavam pôquer numa mesa no centro; um bêbado, mais ao
fundo, empenhado em encontrar o fundo de uma garrafa; e o barman, atrás do
balcão, tentando inutilmente tirar a gordura acumulada em alguns copos —, todos
em completo silêncio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Acendi o
cigarro e fui até o balcão, minhas botas embarradas sujando ainda mais o piso
imundo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Uísque —
disse ao barman.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O homenzinho
baixo, de cabelos oleosos, serviu um copo e deixou a garrafa sobre o balcão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Maldita
chuva, heim? — perguntou.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— É.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Vem de
onde, forasteiro?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— De um lugar
onde não fazem perguntas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Peguei a
garrafa e me dirigi a uma mesa do fundo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Passou-se
algum tempo, onde o silêncio só era quebrado pelas apostas ditas em voz baixa
no jogo de cartas e pelo barulho da chuva, que o telhado daquele barraco fazia
parecer mais forte do que realmente era.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Repentinamente
um homem escancarou a porta e entrou com passadas apressadas, decididas. Tinha
os olhos injetados de raiva, e uma pesada espingarda de cano duplo que
colaborava em seu aspecto sombrio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Quem é o
dono do garanhão malhado para ali fora?! — berrou.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O mustang é
meu — respondi tranquilamente da minha cadeira.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O que está
acontecendo, Stanton? — interrompeu o barman.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Esse filho
da puta matou meu irmão! — continuou o homem grisalho, ainda gritando. — Seu
corpo está atravessado na sela do cavalo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— A cabeça do
seu irmão vale alguns dólares em Nogales, por isso o matei. — expliquei
enquanto servia mais uísque. — A sua não vale nada, então o aconselho a me
deixar em paz se tem amor à pele.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Guarde seus
conselhos e saque sua arma!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Comecei a
beber tranquilamente a dose que eu acabara de servir. Isso deixou Stanton
nervoso, sem saber direito como agir. Sua atenção estava em minha mão direita,
que segurava o copo, o que foi seu primeiro erro. Enquanto eu bebia, minha
outra mão estava a poucos centímetros de um dos meus colts. Homens que carregam
coldres duplos não são difíceis de encontrar, mas os que atiram tão bem de
esquerda quanto de direita são muito raros. De onde estava, meu adversário não
tinha visão da minha arma, o que o deixava em desvantagem, por isso esperei que
tomasse a iniciativa. Levei novamente o copo à boca, e ele aproveitou o momento
para erguer sua espingarda. Foi seu segundo erro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Saquei o colt
com a mão esquerda e atirei. A bala explodiu no peito do homem antes que
pudesse puxar o gatilho. Ele soltou um grunhido surdo e dobrou-se sobre os
joelhos, sua espingarda caiu de lado seguida por seu corpo. Estava morto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Levantei e me
dirigi à saída. Joguei um dólar de prata sobre o balcão e disse ao barman:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Se
aparecerem mais parentes querendo vingança, diga que podem me encontrar <st1:personname productid="em Nogales. Meu" w:st="on">em Nogales. Meu</st1:personname> nome é
Vince Logan.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
————————//————————</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Cheguei à Nogales dois dias
depois. Chovera por quase todo o percurso, o que foi bom, pois se o habitual
sol causticante da região tivesse me acompanhado, o cadáver de Morgan Stanton
estaria fedendo mais do que já estava.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Entreguei o corpo ao xerife e
recebi a recompensa. Já estava de saída do escritório do homem da lei, quando
um cowboy chegou a galope.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Xerife! Xerife!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Diga homem, o que houve?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Sou vaqueiro do Duplo D, nosso
rancho acabou de ser atacado pela quadrilha de Bud Miller. Além de três homens,
a mulher do Senhor Dagget foi morta no tiroteio.<span> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Tem certeza que era Bud
Miller? — perguntei antes que o xerife tivesse tempo de dizer algo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Sim. Eu o vi uma vez em
Albuquerque, e o reconheci apesar do lenço que cobria seu rosto. Também escutei
um dos seus homens o chamando pelo nome.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Deixei o homem dando mais
explicações ao xerife, montei no meu cavalo e parti. O rancho Duplo D ficava a
doze quilômetros ao norte da cidade. Seria uma cavalgada rápida apesar de o meu
cavalo estar exausto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Há tempos Bud Miller era
procurado pela justiça. Ele cometera todo o tipo de crimes, mas por ter
assassinado um juiz em Laredo uns anos atrás sua cabeça valia cinco mil
dólares. O cartaz de recompensa com sua cara feia estampada estava esquecido no
fundo da minha bolsa de sela em meio a tantos outros, mas agora que eu tinha
uma pista quente para seguir não perderia tempo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Cheguei ao rancho e peguei
informações com alguns homens. Os bandidos eram sete, e tinham partido para
oeste. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Você vai sozinho atrás deles?
— perguntou Dan Dageet, dono do rancho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Vou acompanhado de doze
soldadinhos de chumbo calibre 45 — respondi pondo a mão nos meus colts.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Acrescento mais dois mil na
recompensa se me trouxer o bastardo vivo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Pode separar o dinheiro — eu
disse, e parti.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
———————//———————</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
A chuva cessara por completo,
mas o sol ainda estava escondido atrás das nuvens. As pegadas recentes eram
fáceis de seguir, porque o terreno estava úmido. Notei que um dos cavalos
estava manco e outro tinha uma ferradura com a ponta quebrada. A sorte estava
ao meu favor. Com aquelas particularidades nos rastros, seria praticamente
impossível confundi-los com algum outro grupo de número semelhante que
eventualmente estivesse na mesma trilha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Segui devagar, fazendo paradas
regulares para dar descanso ao meu mustang, que já começara a reclamar por umas
férias.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ao anoitecer acampei para dormir
um pouco. Na escuridão eu correria o risco de perder a pista ou acabar caindo
numa emboscada sem perceber. Não fiz fogueira, pois não sabia exatamente a que
distância eles estavam e não queria ariscar ser descoberto. Mastiguei um pouco
de carne seca sonhando com um bom bife. Tive inveja do cavalo, pois o pasto era
abundante e ele estava mais bem servido do que eu. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ao amanhecer o sol nasceu forte.
Meu velho mustang estava bem descansado então eu poderia avançar com rapidez.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Passava um pouco do meio dia
quando notei, pelos rastros, que os homens haviam se dividido. Três deles
atravessaram um pequeno afluente do rio Colorado e seguiram para o norte; os
outros quatro continuaram para oeste. Também continuei seguindo a trilha que ia
para oeste, por dois motivos: um deles montava o cavalo da ferradura quebrada,
que era o rastro mais fácil de seguir; e sendo o grupo maior, a probabilidade
do chefe do bando estar com eles também era maior.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span> </span>Já entardecia quando os rastros terminaram num
pequeno povoado fantasma. Eu já passara por lugares assim outras vezes: eram
cidades construídas de uma hora pra outra, próximas a uma mina de ouro ou prata
recém descoberta, mas eram abandonadas assim que o minério se esvaísse por
completo. O que restava desta era um amontoado de construções caindo aos
pedaços, habitado por cascavéis e escorpiões. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
À entrada do povoado uma placa
dizendo “Bem Vindo a Benson City” jazia crivada de balas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Num barraco à esquerda, um velho
de cabelos e barba brancos pregava alguns caixões. Bem, se havia um coveiro
construindo caixões também existiam futuros inquilinos para habitá-los.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Um e oitenta e nove, acertei?
— ele disse, mostrando um sorriso banguela por baixo da barba cerrada. — Eu
nuca erro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Seus olhos ainda funcionam
bem, velho, mas poupe o trabalho fazendo um caixão pra mim. — Acendi um cigarro.
— Quatro homens chegaram recentemente... Onde estão?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— No saloon, logo ali na frente.
Vai ter confusão, não é?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ignorei-o e fui até o lugar onde
ele indicou. Deixei o mustang do outro lado da rua, junto com os cavalos deles,
e caminhei até o saloon.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
O lugar fedia a uísque e a mijo
velho. Os quatro homens bebiam numa das poucas mesas inteiras do lugar. Um
deles contava sobre uma prostituta perneta que conhecera em Tombstone e os
outros gargalhavam. Fingiam não se importar nenhum pouco com a minha presença. Bud
Miller não estava entre eles. <span> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
O barman tinha uma cara de rato
cortada por uma cicatriz que ia da bochecha ao olho esquerdo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Cerveja.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ele ficou imóvel, como se não
tivesse escutado. Joguei uma moeda sobre o balcão e repeti:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Cerveja.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Não tem cerveja — cuspiu,
indiferente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Havia um pequeno barril sobre o
balcão e um pouco de espuma pingava pela torneirinha que dispersava o líquido. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— E o que é isso aí? — apontei
para o barril.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Você não ouviu ele dizer que
não tem cerveja ou por acaso é surdo? — interrompeu um dos homens, o que
contava a história.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Voltei-me em sua direção,
ficando de costas para o barman.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Se espera reencontrar sua puta
de uma perna só qualquer dia desses, é melhor não se meter — avisei.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Fiquei esperando que ele
reagisse puxando a arma ou rebatesse com um xingamento, mas nada aconteceu.
Fiquei o encarando e vi que seus olhos brilharam como um gato que está prestes
a abocanhar um rato gordo. Para minha sorte, havia os restos de um velho
espelho no lado oposto de onde estávamos, e notei pelo reflexo que o barman
puxava um rifle de baixo do balcão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Me virei sacando o colt num
gesto que eles não puderam acompanhar e meti uma bala no meio daquela cara de
roedor. O sangue espirrou nas garrafas da prateleira atrás dele. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Não esperei para ver o que
acontecia. Saltei por cima do balcão ao mesmo tempo em que uma chuva de balas
passou zunindo em meus ouvidos. Fiquei agachado enquanto cacos de vidro
misturados a uísque barato caíam sobre mim. Espiei pelo canto de baixo do
balcão, no lado direito. Três deles se protegeram atrás de uma mesa virada, e
um deles vinha em minha direção. Se ele estava cansado de viver, resolvi
ajudá-lo: levantei e, batendo com a palma da mão esquerda no cão da arma,
efetuei dois disparos, que explodiram no peito do homem, fazendo-o tombar para
trás, já sem vida. Mandaram bala sobre mim outra vez, mas eu já havia me
escondido. Fizeram uma pequena pausa para recarregar e eu aproveitei. Me ergui
com um colt em cada mão e despejei chumbo sobre eles. Um dos homens botou a cabeça
pra fora para tentar revidar, e um projétil o atingiu na testa. Faltavam dois.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Os disparos cessaram e eu
recarreguei meus instrumentos. Depois pus em prática um velho truque: peguei o
rifle que o barman tentara usar contra mim e pendurei meu chapéu no cano, então
fui erguendo o chapéu devagar, na extremidade oposta de onde eu estava. Assim
que ficou à mostra, meu velho chapéu virou alvo, e eu apareci no outro canto do
balcão e atirei, acertando um homem na barriga. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
O Silêncio reinou por alguns
instantes. Eu já pensava em aprontar outra brincadeira, quando escutei passos
apressados. O bandido restante havia dado o fora. Quando ouvi o barulho de um
cavalo partindo a galope, saí da minha barricada. Não me preocupei em conferir
se ele tinha fugido com meu mustang, pois meu amigo não permite que outra
pessoa o monte.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
O homem que eu havia acertado na
barriga se contorcia no chão, tentado pegar o revólver que caíra próximo a ele.
Engatilhei meu colt e avisei:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Você já tem um pé na cova, mas
se quiser entrar de corpo inteiro ponha a mão nessa arma.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— S-seu... seu bastardo — ele
grunhiu. A voz saiu acompanhada de um ruído estranho, causado pelo sangue que
saía de sua boca e o fazia engasgar. <span> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Diga onde posso encontrar
Miller que acabo com seu sofrimento.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Fla... Flagstaff.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Cumpri o prometido puxando o
gatilho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Do pequeno barril sobre o balcão
jorrava cerveja por um buraco de bala. Encontrei um caneco inteiro, o enchi e
bebi. Tinha gosto de mijo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
No saloon restavam quatro
cadáveres e o cheiro de pólvora e sangue no ar. Dei o fora dali. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Na saída do povoado, aquela
singular e banguela figura continuava com seu trabalho macabro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Prepare quatro caixões, velho.
Sabe as medidas, não?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— “Quatro”, você disse? Então
não sobrou ninguém. Quem vai pagar meu serviço?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Isso não é problema meu.
Adiós. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Parti rumo à Flagstaff. Já
estava mais que na hora de conhecer o famigerado Bud Miller.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
——————//——————</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
No amanhecer do terceiro dia de
viajem, avistei um grupo de cinco apaches vindo em minha direção. Eles montavam
em pêlo, mas traziam três cavalos selados pelas rédeas. Saquei meu winchester
do estojo de sela e fui avançando devagar. Eles ficaram parados, esperando. À
medida que chegava perto, notei que em um dos três cavalos selados, havia um
cadáver amarrado: era o homem que havia fugido de mim no povoado fantasma. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Um dos índios cravou sua lança
no chão e deu três voltas em torno dela com o cavalo. O sinal queria dizer que
pretendia parlamentar. Fiz sinal positivo com a cabeça e ele veio até mim. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Para minha sorte ele era um
homem maduro. Se o grupo fosse composto somente por jovens guerreiros eu
estaria encrencado. Ele parou muito próximo a mim. Nossos cavalos ficaram
cabeça a cabeça. Não tirei os olhos dos dele nem por um segundo, pretendendo
demonstrar que não sentia medo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ele apontou meu cavalo e depois
apontou para o próprio peito. Fiz um sinal negativo com a cabeça: ninguém pega
meu mustang. Tirei um cantil com uísque da sela e entreguei a ele. O índio
bebeu um gole generoso e pendurou o cantil ao redor do corpo. Me iludi pensando
que se contentaria com o uísque. Ele ficou parado, esperando algo mais. Eu
tinha mais de quinhentos dólares comigo, mas o dinheiro não tem valor para os
índios. Peguei meu winchester pelo cano e entreguei a ele. O apache verificou o
rifle e vi seus olhos se iluminarem. Era é uma bela arma, modelo 73, muito
melhor que os ferros velhos que eles usavam. Havia um cacto jovem a dez metros
de distância, ele atirou e o partiu em dois para delírio dos seus companheiros,
que soltaram gritos de guerra para o alto. Ficou admirando o rifle com o
semblante sério, acho que pensando o que decidiria. Diabo! Eu perderia o escalpo
antes de entregar meu mustang. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Mas não foi preciso. Ele fez
sinal positivo com a cabeça e saiu de lado para que eu passasse. Os quatro
jovens atrás dele o seguiram soltando seus gritos. Perdi um bom rifle, mas
conservei a pele. Não foi um mau negócio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Alguns dias depois cheguei à
Flagstaff. A cidade era grande e os vários saloons da rua principal estavam
lotados. Deixei meu mustang numa estrebaria e pedi que fosse bem tratado,
depois comecei a ir de saloon em saloon procurando Bud Miller. Tive sorte na
quarta tentativa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
O Red River Saloon estava cheio.
Era um lugar limpo e agradável, diferente das ratoeiras que eu freqüentara
ultimamente. O espaço era grande e animado por várias prostitutas que faziam
seu serviço nos quartos do segundo andar. Bud Miller jogava pôquer com mais
dois homens. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Bebi duas ou três cervejas
observando o homem até me certificar que seus cúmplices não estavam por perto. Fui
até ele.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Tem lugar pra mais um? —
perguntei a Miller.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Depende da
cor dos seus dólares.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Peguei um
maço de notas do bolso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— A cor
agrada?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Puxe uma
cadeira.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Depois de
quatro ou cinco rodadas, percebi que Miller trapaceava. Entrei no jogo e
comecei a trapacear também. Com aquela roubalheira não demorou a depenarmos os
dois patos que nos acompanhavam. Acabamos ficando no mano a mano. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Eu tinha mais
ou menos setecentos dólares na mesa, e Miller quase dois mil. Ele começou a embaralhar
as cartas, depois distribuiu cinco para cada um.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Olhei as
minhas cartas e não era um bom começo: rei e dez de espadas. As outras tinham
naipes e valores diferentes. Ele conferiu seu jogo e soltou duzentos dólares
sobre a mesa. Resolvi confiar na sorte e cobri. De qualquer forma aquela seria
a última rodada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Quantas
cartas? — perguntou.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Três. — E
descartei as que não serviam.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Miller não
trocou nenhuma carta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Puxei a
primeira carta: dama de espadas. Puxei a segunda carta: valete de espadas.
Puxei a terceira e olhei primeiro o naipe: espadas. Fiz um esforço para não
sorrir. Diabo! Não era um Ás, era um nove, mas mesmo assim uma ótima mão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Miller era um
bom jogador e permaneceu impassível quando depositou mais trezentos dólares na
mesa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Aposto
tudo. — E empurrei para o meio da mesa o restante da minha grana.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Com o jogo
alto, espectadores começaram a aglomerar-se em torno de nós. Miller ficou me
observando enquanto coçava o enorme bigode imaginando se eu blefava. Ficou
alguns instantes assim até que abriu um sorriso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Estou no
jogo — ele disse, depositando dinheiro suficiente para pagar a aposta. — É uma
pena que você esteja liso, porque com essa mão eu apostaria tudo o que tenho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Até sua
alma?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Que?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Eu poderia
fingir que não notei seu jogo sujo e não dizer que você é um trapaceiro filho
de uma égua.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O que
voc...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Cale a
boca, eu não terminei! Eu poderia não dizer, mas vou dizer: você é um
trapaceiro bastardo que joga com o dinheiro sujo dos seus crimes...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Seu desg...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Cale a
boca! Vamos fazer o seguinte: não tenho dinheiro comigo, mas tenho um pedaço de
papel com essa sua cara feia que vale cinco mil dólares, vivo — joguei o cartaz
de recompensa sobre a mesa — ou morto. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Os
espectadores abriram espaço e um silêncio mortal reinou no saloon. Miller levantou-se
devagar, sua cadeira fazendo um ruído ao ser arrastada.<span> </span>O imitei e ficamos frente a frente. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Sua mão
baixou devagar até a altura da arma — uma schofield 44 — e seus dedos abriam-se
e fechavam-se próximos ao cabo. Permaneci imóvel, com a mão congelada à altura
do colt. Uma gota de suor projetou-se na testa do facínora e começou a
percorrer lentamente sua face até parar pendurada na ponta do bigode. Fiquei
atento ao seu olhar, esperando um movimento. Pisquei o olho, o que fez um
lampejo de raiva inundar sua expressão. Ele estreitou as pálpebras e sacou. Fui
apenas um segundo mais rápido, mas o suficiente para fazer uma bala destroçar a
mão que segurava a arma. O revólver voou longe e ele soltou um urro de dor.
Devolvi meu colt ao coldre e Miller aproveitou o movimento para me atacar,
furioso como um urso pardo ferido. Veio pra cima de mim com as duas mãos
abertas, mas agarrou o ar. Dando um passo para o lado, soquei seu estômago com
a esquerda e ele se dobrou <st1:personname productid="em dois. Arrematei" w:st="on">em dois. Arrematei</st1:personname> com um cruzado de direita na
lateral da face, sentindo um osso estalar com o impacto da minha mão. Com ele
caído aproveitei para chutá-lo no estômago. Gostei do resultado e chutei outra
vez, desta vez no rosto. Ele caiu descordado, com os braços abertos e a cara
tingida de sangue.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Acendi um
cigarro e conferi as cartas de Miller: quatro Ases. Patife até o fim. Peguei da
mesa os quinhentos dólares com que tinha começado o jogo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Repartam o
resto do dinheiro entre vocês dois — eu disse aos patos que havíamos depenado.
— Miller estava trapaceando... e eu também. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Carreguei o homem nas costas
para fora do saloon, enquanto era observado por olhares atônitos, e o levei até
a estrebaria. Amarrei Miller na sela do seu próprio cavalo e me dirigi à saída
da cidade puxando o animal pelas rédeas. Esporeei meu mustang pra fora da
cidade. Queria estar longe dali quando os comparsas de Bud Miller dessem falta
do chefe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
——————//—————</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Depois de mais de uma semana de
estrada, cheguei ao rancho Duplo D. Minha viajem de volta poderia ter sido tranqüila,
se meu prisioneiro não tivesse chamado minha mãe de todos os tipos de nomes
durante a maior parte do percurso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Dan Dagget estava esperando em
frente à sua casa. Sorriu ao me enxergar e fez uma cara de nojo quando viu
Miller amarrado ao cavalo. Sem dizer nada, ele entrou em casa e voltou com um
laço. Miller ficou pálido ao ver Dagget preparando o nó da forca.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Faça o que tem que fazer, e
depois leve o corpo ao xerife para pegar a recompensa. Estarei esperando no
hotel pelo dinheiro que me deve. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Pode confiar. — ele afirmou.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
O aspirante a defunto começou a
gritar alguma coisa, mas Dagget o calou com um pontapé. Aquela história não me
dizia mais respeito então parti sem demora. Quando olhei para trás, o rancheiro
estava passando a corda por cima de um galho de uma velha árvore. O facínora
teria o final que merecia. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Peguei a trilha de volta à
cidade e já tinha me distanciado do rancho quando, de súbito, escutei uma voz
gritar atrás de mim:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Vince Logan!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Voltei-me na direção da voz e vi
um jovem que mal tinha barba na cara. Trazia um velho colt dragão no coldre. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Sou eu.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Meu nome é Neal Stanton. Você
matou meu pai e meu tio há uns dias atrás. Vim lhe apresentar a conta. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Apeei do cavalo e me aproximei.
Ficamos a cinco metros um do outro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— O inferno está cheio de gente
que quis me apresentar contas desse tipo, garoto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ele não se intimidou e levou a
mão à arma, mas a minha já estava empunhada antes que ele tocasse o cabo da
dele.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Quer tentar de novo? —
perguntei, devolvendo meu colt ao coldre.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ele engoliu <st1:personname productid="em seco. Sua" w:st="on">em seco. Sua</st1:personname> mão baixou
novamente, mas foi ainda mais lento que antes. Foi tomado pelo medo quando deu
de cara com o cano do meu revólver pela segunda vez. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Vá pra casa, garoto. Me
procure daqui alguns anos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Ele ficou no mesmo lugar, as
pernas tremendo um pouco. Resolvi incentivá-lo: arranquei seu chapéu da cabeça
com um balaço. Isso fez ele se decidir.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Eu vou voltar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Estarei esperando.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Fiquei observando até que ele
desaparecesse do meu campo de visão atrás de uma colina. Diabo! Algum dia aquele
rapaz iria me dar trabalho. Mas agora eu só pensava em alguns dias de descanso
regados com muita cerveja. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-7696935958561811562011-09-10T16:04:00.000-07:002011-09-10T16:04:59.073-07:00Inconsciente<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Virei
bruscamente o volante para a direita, desviando de um caminhão mais lento,
quase batendo em outro carro logo à frente. Engrenei a terceira marcha no Omega
e furei o sinal vermelho, ignorando as buzinas. Fodam-se! Os bandidos estavam escapando
num Honda Civic prata logo após terem assaltado uma agência do Banco do Brasil.
O azar deles foi terem topado comigo enquanto eu passava por acaso pela rua. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Cambiei para
a quarta e ganhei um pouco de terreno, quando uma espingarda calibre <st1:metricconverter productid="12’" w:st="on">12’</st1:metricconverter> surgiu pela janela traseira
do Honda, disparando e explodindo o pára-brisa do meu carro; alguns cacos
cortando o meu rosto. Saquei minha arma — uma pistola Taurus de 15 tiros — do
coldre de ombro e respondi ao fogo, espedaçando o vidro traseiro do carro em fuga.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O cano longo
da espingarda surgiu novamente e eu me abaixei mantendo o pé no acelerador;
depois do estrondo do disparo o encosto de cabeça do meu assento ficou em
frangalhos, e eu ergui-me atirando duas vezes, mas desta vez as balas tiveram
destino certo — acertando o sujeito da espingarda no peito — botando-o fora de
combate.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O Honda virou
à esquerda numa rua estreita. Reduzi para segunda marcha e afundei o pé no
acelerador, fazendo com que o Omega entrasse na curva jogando a traseira, mas,
tão logo a nova rua entrou no meu campo de visão, pude ver uma Pick-Up vindo em
minha direção, colidindo de frente pelo lado dianteiro do meu carro, que girou
duas vezes e foi parar dentro de uma farmácia. Com o rosto encharcado de
sangue, vislumbrei com um meio sorriso um senhor idoso urinar nas calças um
pouco antes de eu apagar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
——————//——————</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Quando
acordei era tudo branco à minha volta. O paraíso nem sequer passou pelos meus
pensamentos, pois se existia essa coisa de céu e inferno, o meu destino seria o
andar de baixo e não o de cima. Tive a certeza de que ainda estava vivo quando
uma forte dor latejou em minha cabeça, dez vezes mais forte que a ressaca de
uma boa bebedeira. Ainda atordoado, escutei um bip contínuo, oriundo de um
aparelho ligado ao meu corpo — estava em um hospital.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Sentei-me na
cama e notei uma garotinha — de não mais que dez anos, cabeça raspada e grandes
olhos castanhos, vestindo uma ridícula camisola branca de bolinhas, igualzinha
à minha — sentada na cama ao lado, sorrindo para mim. Senti a barba pinicando
em meu pescoço e a julgar por seu tamanho, calculei que estivera desacordado
por três dias.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Por um
acaso você não teria um cigarro, teria? — perguntei à menina.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não tem
graça — ela respondeu, desmanchando o sorriso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— É, eu sei,
desculpe. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ela abriu o
sorriso novamente, mudando de humor ao som de uma frase, da maneira como só as
crianças são capazes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— É uma
grande merda, não é? A quimioterapia? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Você disse
um palavrão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ah, porra,
descul... oh, merda... olha, é melhor eu ficar calado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— É muito
ruim.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O quê?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— A
quimioterapia. É muito ruim. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Pois é.
Minha esposa também passou por isso. Sinto muito.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ela esteve
aqui.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Quem?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Sua esposa.
Ela é bonita.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não, não.
Você deve ter confundido. Quem deve ter vindo é a Alice, minha parceira na
polícia. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ela disse
que era sua esposa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— A Alice é
assim, gosta de piadas. Talvez seja por isso que me atura há tanto tempo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— E como você
tem certeza de que não era sua esposa?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Bem, nós
não estamos mais juntos — improvisei. Não queria dizer para uma garotinha
fazendo quimioterapia que minha esposa morrera de câncer há cinco anos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Por quê?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Por que o
quê? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Por que não
estão mais juntos?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Bem, aconteceu
uma coisa ruim e tivemos que nos separar. Olha, me dá licença, preciso ir dar
uma mij... ir fazer xixi. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Passei o
restante daquele dia submetido a uma série de exames. Pedi alguns comprimidos
para dor de cabeça e insisti que me deixassem ir embora, mas <st1:personname productid="em v ̄o. Algo" w:st="on">em vão. Algo</st1:personname> podia estar
errado no meu cérebro, dissera o médico, por isso eu teria que ficar alguns
dias sob observação. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Estava doido
por um cigarro. Tentei de várias formas conseguir algum, mas o melhor que
arranjei foram algumas balinhas de hortelã. Uma enfermeira gostosa disse-me que
aproveitasse aqueles dias para desintoxicar, e talvez até conseguisse parar de
vez. Diabos! Eu não estava nem um pouco a fim de abandonar o meu vício. Até
pensei em ameaçar prendê-la se não me trouxesse um bom maço de Mallboro, mas
acabei desistindo da idéia. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
À noite o
terceiro andar do hospital estava mergulhado na escuridão e em um silêncio que
só era quebrado pelo burburinho baixo oriundo do primeiro andar, onde
funcionava o pronto socorro. <span> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Para
compensar minha insônia, eu assistia um desenho animado idiota no volume mínimo
da televisão, enquanto a garotinha com câncer dormia tranqüila na cama ao lado
da minha. Me perguntei onde diabos estavam os pais da minha companheira de
quarto, pois não os vira uma única vez desde que chegara ali. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Tentei apagar
aquilo da mente. Talvez conseguisse saciar minha curiosidade com uma boa
conversa pela manhã. Voltei minha atenção para o desenho animado, onde um
macaquinho com cara de terrorista acendia uma banana de dinamite, quando ouvi
um ruído metálico vindo do corredor. Era algo constante, que se repetia ao
intervalo de cinco segundos ou menos, como uma engrenagem mal lubrificada
trabalhando.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Aquele “nhec”
começou como um sussurro distante e foi tornando-se mais alto à medida que se
aproximava. Repetiu-se bem perto quando a luz automática do corredor se acendeu.
Notei uma sombra passar, devagar e despreocupada, cobrindo brevemente o pouco
de claridade que penetrava pela fresta abaixo da porta. O ruído foi
afastando-se preguiçosamente, e a luz do corredor tornou a apagar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Sentei-me na
cama e experimentei um pouco de tontura. Calcei um par de pantufas, deslizei
até a porta e a abri devagar. Parei no umbral e a luz ganhou vida outra vez. À
minha esquerda não via-se nada além do completo negrume. À direita, ao final de
um intervalo escuro que calculei ter quinze metros, o corredor fazia uma curva,
onde a última lâmpada no meu campo visual se apagava. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Segui o
andarilho noturno a passos lentos. As lâmpadas fluorescentes iam acendendo-se à
minha frente e apagando-se às minhas costas. O corredor era largo; as paredes
cobertas por azulejos verdes recendendo um cheiro desagradável de desinfetante.
Comecei a ouvir o ruído metálico novamente e notei um pouco de claridade opaca
vinda da curva para onde me dirigia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Segui
avançando. Um vidro quebrou em algum canto. O desconhecido ruído metálico deu
lugar a um farfalhar que me lembrou um gato assaltando uma lata de lixo na
calada da noite. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Venci a curva
e vi que aquele corredor era mais curto. Do ponto onde eu estava ele parecia
desembocar em um lugar amplo logo à frente, onde a luz mantinha-se acesa. Uma
placa com uma seta indicando a área da radiologia pendia do teto por finas
correntes. Segui por aquele caminho e fui parar num saguão completamente
silencioso. Um grande balcão circular com dois monitores desligados tinha
destaque no centro. Num canto, próximo a um conjunto de cadeiras de estofado
escuro, havia uma máquina que dispensava guloseimas em troca de moedas — tinha
o vidro quebrado, alguns biscoitos e salgadinhos espalhados pelo piso verde —
que explicava os últimos ruídos que eu ouvira. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Decidi
explorar melhor o lugar, com o objetivo de descobrir o pão duro que não queria
gastar algumas moedas. Mal iniciei minha busca, escutei passos apressados e
risadas vindas do corredor maior, de onde eu viera inicialmente. Corri para lá
e pude notar o jogo de luzes acendendo e apagando, acendendo e apagando: alguém
corria. Quanto cheguei ao corredor, a última luz se extinguiu num ponto um
pouco além do meu quarto e uma porta bateu. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Investi
decidido naquela direção. Chegando próximo à porta que batera comecei a escutar
barulhos lá dentro, como que estivessem revirando algo. Minha mão fez o gesto
automático de buscar a arma, mas não a encontrou onde deveria estar. Era tudo
ou nada. Escancarei a porta e... Ninguém! Um pequeno depósito de produtos de
limpeza em perfeita ordem. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Sem entender
mais nada, um pouco atordoado pela tontura que agora me consumia, voltei ao meu
quarto. A televisão continuava ligada no canal de desenhos, mas a garotinha não
estava mais lá; a cama ao lado da minha tinha os lençóis sobriamente estendidos,
como se nunca usados. Voltei-me imediatamente em direção à porta com o intuito
de buscar alguém acordado que me explicasse o que estava acontecendo, mas a
tontura me pegou de vez e desabei antes de dar o primeiro passo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
——————//——————</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Despertei não
sei quanto tempo depois. Ergui-me do chão devagar, temeroso, mas a dor de
cabeça e a tontura haviam cessado. O quarto era o mesmo, mas havia mudado:
estava completamente vazio; as paredes escuras, sujas, como no interior de uma casa
há muito tempo abandonada. Tentei pôr os sentidos <st1:personname productid="em ordem. O" w:st="on">em ordem. O</st1:personname> que estava
acontecendo comigo? Em resposta veio aquele som metálico, enferrujado, vindo do
lado de fora, penetrando através da porta marrom-escura em estado deplorável. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Pus a mão na
maçaneta e a porta desfragmentou-se <st1:personname productid="em poeira. O" w:st="on">em poeira. O</st1:personname> corredor era o mesmo que eu vira da
última vez, mas, como o quarto, também estava diferente. O azulejo, outrora
verde e limpo, tingia-se aqui e ali com manchas negras. Todas as lâmpadas
quebradas, algumas pendendo do teto por um resto de fio, balançando de um lado
para outro. Alguns raios de sol invadiam o lugar pelas janelas no alto e
deixavam à mostra partículas de poeira dançando no ar. O piso estava coberto
com um manto prateado que à primeira vista parecia neve, mas com uma análise
melhor notei serem cinzas: eu estava num lugar que fora vitima de um grande
incêndio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O ruído metálico
continuava. No chão havia pequenas pegadas entre duas linhas ininterruptas que
seguiam corredor adiante como se fossem os trilhos de um trem. Corri naquela
direção e o ruído aumentou. Fiz a curva para a direita quando o corredor terminou
e, finalmente, descobri de onde provinha aquele som: a menina de cabelos
raspados empurrava vagarosamente uma cadeira de rodas em direção ao nada. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ei, menina!
— gritei. — Pare aí!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ela parou.
Permaneceu imóvel enquanto eu avançava pela suas costas, como que tivesse
levado um choque. Após alguns passos dei a volta por ela e deparei-me com algo
que eu nunca esperava ver: minha falecida esposa era quem estava sentada na
cadeira de rodas. Tinha os olhos avermelhados, cercados por olheiras roxas. Os
cabelos escuros com fios grisalhos cobrindo parte da testa pálida decorada por
algumas novas rugas. Exatamente a mesma expressão emanando fraqueza que possuía
em seus últimos dias de vida.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Caí de
joelhos. Tentei dizer qualquer coisa, mas minha voz morreu na garganta. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Está tudo
bem — disse sorridente a garotinha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Fa... fale
comigo — pedi à minha mulher, ignorando a menina.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ela não
pode. Disse que ainda não é o momento.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Fiz uma cara
de quem não estava entendo nada e a criança entendeu.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Venha
comigo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
A segui. Ela
empurrando a cadeira de rodas com minha mulher inerte sobre ela, sem piscar ou
mudar de expressão. Descemos ao segundo andar do hospital, onde parecia estar
tudo na mais perfeita ordem, com médicos e pacientes para todos os lados.
Ninguém parecia nos notar, mas quando alguma pessoa passava por onde nós
andávamos, desviava seu trajeto, evitando esbarrar em nós como se nos
pressentisse. A cadeira de rodas com uma engrenagem rangendo constantemente. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ali, veja —
apontou a menina.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Eu vi. Em um
quarto particular, ligado a vários aparelhos, meu corpo jazia em estado de
coma.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— É hora de
voltar — ela disse, e eu desmaiei. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
———————
// ———————</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
Despertei sem dor alguma, apenas
sentindo a boca seca. Olhei para o lado e vi Silvério — um negro alto com um
sorriso largo sublinhando o volumoso bigode —, meu velho amigo de infância.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Até que enfim acordou,
parceiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
— Por favor, me diga que tem um
cigarro.</div>
Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-5235692950004423072011-05-29T19:13:00.001-07:002011-06-02T09:24:01.172-07:00Fazendo as Contas<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Se nós, homens, imaginarmos o casamento como uma empresa de fins lucrativos (onde o prazer e a felicidade são produtos com alto valor de mercado, estando acima, inclusive, da moeda), e pusermos no papel uma equação matemática para calcular o balanço patrimonial, nem sempre o resultado será positivo. A variável é a mulher. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">——— // ———</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">O Ernesto queria comprar uma mesa de sinuca para pôr na garagem. Antes de falar com a esposa sobre o assunto, foi às lojas pesquisar os preços e, quando voltou para casa, estava armado com uma dezena de orçamentos e o planejamento estratégico em mente. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">Dalva estava lavando a louça, então Ernesto deu início a primeira parte do seu plano: a conquista. Chegou por trás da esposa aplicando-lhe um beijo na nuca, fazendo carinhos, e pôs-se prontamente a secar os pratos recém lavados.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Iiih — desconfiou Dalva. — O que você está querendo?</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Hã? Eu... nada. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Não me enrola, Neto. A última vez que você decidiu ajudar nos trabalhos domésticos foi quando quis comprar uma TV nova, então vai falando, vai.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Bem, eu... eu... pensei em comprar uma mesa de sinuca.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Nem pensar! </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Mas amor, vai ser legal. Posso chamar o Cláudio de vez em quando para jogar, enquanto você fofoca com a mulher dele.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Vai me chamar de fofoqueira agora, é?</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Amor... sejamos realistas. Além disso, enquanto eu estiver jogando a TV é toda sua.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Mas Neto, quanto vai custar isso?</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Bem, eu fiz uma pesquisa e encontrei a que eu quero por mil e seiscentos: tampo de mármore, madeira de lei, já vem com um conjunto de tacos e bolas, uma beleza!</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Mil e seiscentos?! Não, Neto, não dá. Estamos economizando para comprar um carro novo, você sabe.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">Ele sabia. Mas estava preparado para aquela resposta.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Calcule comigo — começou ele —, quanto tempo demoramos para economizar mil e seiscentos reais? </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Três meses.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Exato, três meses. E quanto tempo levará ainda para comprarmos o carro?</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Dois anos.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Isso, dois anos, então veja só: prefiro esperar mais três meses além dos dois anos para comprar o carro, e comprar minha mesa de sinuca agora, do que deixar para comprar a mesa só depois do carro, o que levaria dois anos e três meses. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— É, a lógica é boa — concordou Dalva. — Então...</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Então?</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Então, seguindo esta lógica, poderemos usar esse dinheiro para comprar uma secadora de roupas, que faz muito mais falta que uma mesa de sinuca.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Como faz mais falta? Eu não lavo roupas!</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— E eu não jogo sinuca!</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Mas você poderia começar a jogar. Te garanto que com um pouco de treino você ganha até do Rui Chapéu. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— E você poderia começar a estender a roupa no varal. Te garanto que com um pouco de treino sua coluna fica tão dolorida quanto a minha. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">Para aquilo ele não estava preparado, mas não entregaria os pontos tão facilmente. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Eu paro de fumar — mentiu. Sabia que quando a mesa estivesse comprada, não daria a primeira tacada sem estar com um cigarro na boca. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Pára mesmo?</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Claro que paro! Olha só: eu gasto cem reais por mês em cigarros, então se eu parar de fumar e comprar a mesa agora, ele se auto-pagará em dezesseis meses com a economia dos cigarros.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Ótima idéia! Pare de fumar e compramos a secadora.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Deus, não! Não vou me sacrificar para comprar uma secadora. Sacrifique-se você. Sei lá... pare de ir ao cabeleireiro.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Neto, não vamos comprar uma mesa de sinuca e ponto final! Aliás, se você quiser comprar, venda seu carro velho, assim sobra mais espaço na garagem para o novo. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Eu vender meu Opalão? Aqui, ó!</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Então nada de mesa de sinuca.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">Teria que tomar uma atitude de Homem (sim, com H maiúsculo). Era agora ou nunca.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Quer saber? Vou comprar a mesa e não se fala mais nisso!</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Tudo bem, se comprar não tem mais sexo.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Pô, mas assim é covardia. </div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">Ernesto, vencido e cabisbaixo, acomodou-se no sofá, cerveja na mão, e se pôs a pensar no divórcio. O que poderia haver de ruim na vida de solteiro? Poderia beber e fumar à vontade. Poderia chegar em casa à hora que bem entendesse. A roupa era só deixar na lavanderia, sem falar na mesa de sinuca que colocaria na sala, ao invés da garagem. Sexo? Não era tão feio a ponto de não conseguir uma transa de vez em quando, além disso, sempre existiriam prostitutas. Era só pegar o carro e... Ah, o carro! O bom e velho Opala 87, único dono, impecável, sem um arranhão... estava no nome dela. Se queria o divórcio, adeus Opalão.</div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">— Amor, pensando bem, você precisa mesmo de uma secadora... </div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-72809768968525482642011-03-27T18:43:00.000-07:002011-03-27T18:43:59.384-07:00Duas Cruzes<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">De onde venho diz-se, quando uma criança deixa o simples gesto de assoprar as chamas das velas de um bolo de aniversário, e passa a apagá-las com a ponta de dois dedos umedecidos, que ela perdeu o brilho de sua infância.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">José de Deus, porém, nunca tivera um bolo de aniversário. Nunca tivera a oportunidade de cerrar os olhos, fazer um pedido e assoprar as chamas. Talvez se ele tivesse a chance, as apagaria com a ponta dos dedos de uma vez; mais ansioso para devorar o bolo do que para ganhar um presente. Não tivera tempo de ser criança.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">José era um negrinho querido pela maioria dos peões da Estância do Paredão, no interior do Rio Grande do Sul. Todos os dias durante a colheita eles o viam para um lado e para outro com seu balaio de pêssegos e um pedaço de capim entre os dentes sempre à mostra.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">A escravidão fora abolida há uns anos, mas Joca, tio de José, resolvera ficar trabalhando na estância por alguns trocados. José poderia ter ido embora com o pai, mas este morrera pelo chicote de Juvêncio, o capataz da fazenda. Às vezes, enquanto colhia os pêssegos, José refletia sobre a morte do pai do qual mal lembrava o rosto. Não saberia dizer ao certo se partiria daquele lugar junto dele para tentar uma nova vida, caso o pai decidisse isso. Mas achava que não. Seria impossível sair dali sem levar Rosário consigo. Aquela guria de pele cor de leite e cabelos tão louros quanto Deus pôde pintar, que de vez em quando fugia da saia da mãe para ir conversar com ele no meio dos pessegueiros. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">As chicotadas haviam sido proibidas pelo Senhor Armando, dono da estância e pai de Rosário, mas José perdera a conta de quantas surras de vara levara por conta de ser pego conversando com a guria. Mas não tinha importância, pois ele a amava da forma mais pura que uma criança ama outra — eram verdadeiros amigos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Mesmo aos dez anos de idade, José de Deus tinha os ombros largos e braços fortes, acostumado ao trabalho árduo praticamente desde que começara a andar. Costumava se exibir para a amiga erguendo-a com uma das mãos para que ela apanhasse alguma fruta mais alta na árvore, e ela gostava disso. Toda a vez que suas peles tão distintas se tocavam, ele lembrava com pesar a conversa que tivera certa vez com o tio:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Zé, isso coisa boa num há di sê — alertara o tio. — Tu fica longe daquela guria si num quizé prova du chicote do Juvêncio... i du meu chinelo!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Mas tio, eu gosto dela! — chorara José.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Num mi interessa! Zé, pur mim tu podia fazê u qui quisesse, mas si tem duas coisa nu mundo que num si misturo, é pele branca cum pele preta. Vê bem tua cor, negrinho. Tu acha qui u Sinhô Armando ia querê um piá qui nem tu pra fia dele? </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Não — respondera José que perdera um pouco do sotaque do tio nas conversas com Rosário.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Intão? Meu fio, a vida é dura cum nóis, mas temo que sê homi pra guentá. Temu que botá o peito na água e guentá u cunhete, como dizia teu pai.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">O conselho do tio adiantara por um tempo. Tempo em que ele fugia de qualquer maneira dos encontros com a amiga. Mas quando ela finalmente o fisgou, os dois tiveram uma conversa ainda mais importante:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Por que andas fugindo de mim, Zezinho? Tu ta brabo comigo?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Ele respondeu que não e contou sobre a conversa com o tio. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Nem tudo o que teu tio falou é verdade. Nossa pele não é totalmente diferente — ela pegou as mãos do amigo com as palmas de tom mais claro calejadas viradas para cima. — Vê? Quase iguais.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Não são não. Nunca vão ser.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Mas e o que tem isso? Arroz com feijão não é bom?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— É.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— E um não é preto e o outro branco?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— É.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Então promete que vai esquecer essa besteira de cor e continuar sendo meu amigo.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Prometo.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">E ele ganhou um beijo no rosto que jamais esqueceria.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">——————— // ———————</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Era 20 de setembro, o dia que José mais gostava, pois todos os peões se reuniam no grande galpão para a comemoração da data em que o General Neto, em 1835, proclamara a República Riograndense. Ele adorava o cheirinho de carne assada misturado ao da fumaça dos fogos de chão, adorava ver o chimarrão e a guampa de cachaça sendo passados de mão e mão, e adorava os chasques e milongas tristes serem dedilhadas nas gaitas e violões. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“... Tchêêê aprochega Gaúcho,<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Perto do fogo de chão,<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Conte causos da vida campeira<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">E dos velhos tempos de peão.<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Conte causos da vida campeeeira<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">E dos velhos tempos de peão...”<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Dizia umas das canções enquanto José devorava um naco de costela que lhe fora alcançado por um peão.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Certa hora, já madrugada alta, a música cessou um pouco, e os homens iniciaram uma conversa séria, a qual José não deu muita atenção, pois só procurava os olhos de Rosário, do outro lado do galpão, sentada ao lado da mãe. O portador da voz era Bonifácio, o homem mais velho entre eles, mais respeitado que o próprio patrão. Diziam dele <i style="mso-bidi-font-style: normal;">que fora o “índio mais queixo-duro” no lombo de um rosilho, e que não perdera o dom, pois era daqueles que Deus forjara e pusera fora a receita. </i>Ninguém ousava interromper sua narrativa. Todos o escutavam como paroquianos a um padre rezando a missa.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>— Têm gente estranha rodeando a estância — começou ele do interior do seu poncho. — Ontem fui buscar um novilho desgarrado lá pra costa do Camacuã, e vi rastro de três cavalos. Um deles tinha uma ferradura quebrada, então se algum de vocês notarem esses rastros no chão tente seguir, pois eu os perdi quando cruzaram o rio. Sei que é gente mal intencionada, porque seguiram um bom trecho por dentro d’água para despistar. Por que mais iam querer andar se entocando sem ter algo a esconder? Não são os peões do velho Rodrigues, porque eu fui falar com ele, e todos os homens dele tão pra banda do Lageado campeando uma tropa. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Tchê, tu me deixa preocupado — disse Armando de um canto. — O que será que essa gente quer nas minhas terras?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Não sei patrão, mas coisa boa não é.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">——————— // ————————</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Passaram-se alguns dias desde a churrascada no galpão, e a vida de trabalhador de José de Deus voltara ao normal. Colhia pêssegos como sempre fazia, mas algo diferente lhe chamou atenção: uma linda flor branca, que ele não soube dizer o nome, jazia bela no topo de uma figueira. Ele ficou maravilhado ao ver aquilo, que com certeza não deveria estar ali. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Está esperando por mim, </i>pensou. Apressou-se a trepar na árvore e pegou a flor para dar de presente a Rosário. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uma flor para uma flor.<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">O negrinho correu como nunca com seu balaio de pêssegos em direção à casa grande da estância, onde chamaria pela amiga em sua janela e a presentearia com a flor. Mas quando chegou, notou que algo ruim acontecera, pois os peões, desesperados, saíam em disparada com seus cavalos.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Quando o Senhor Armando o viu, armou-se com o rebenque, o que fez José engolir em seco.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Cadê a Rosário, negrinho?! — explodiu o homem.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Ué, não sei não senhor — apressou-se a explicar José.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Tu não me mentes guri! </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Não senhor. Eu tava lá com os meus pêssegos, e não vi a Rosário hoje. — E de repente um pensamento lhe ocorreu e ele sentiu o coração saltar dentro do peito. — Aconteceu alguma coisa?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Ela... ela sumiu. — conseguiu dizer o homem, que pareceu, pela primeira vez, ter ficado descontente pela filha não estar junto do negrinho.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">José sentiu seus cabelos se ouriçarem. Deixou a flor cair no chão e montou no primeiro cavalo que viu, ignorando os protestos de um peão, e saiu em disparada para o meio do mato. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Passaram-se algumas horas em que os homens, espalhados pelo campo, procuravam a guria desaparecida. O primeiro a vê-la foi José.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Ele escutara um leve gritinho, logo abafado, que reconheceu de imediato. Apeou do cavalo e penetrou no mato cerrado para ver o que os olhos de uma criança nunca deveriam ver: três homens estavam em cima da sua amiga. Um deles segurava as duas mãos contra o solo, outro tampava-lhe a boca, e o terceiro a estuprava. José, do interior de sua inocência, não entendeu bem o que eles estavam fazendo, mas sabia que estavam a maltratando. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não pensou duas vezes. Agarrou um grosso pedaço de pau do chão e jogou-se sobre os três desconhecidos atacando ferozmente. Com um golpe certeiro ele rachou o crânio do primeiro, que desabou no chão, mas os outros, passada a surpresa, conseguiram dominá-lo. Com dificuldade, mas conseguiram.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Perto dali, Juvêncio, o capataz que matara o pai de José, escutou seus gritos e disparou em sua direção. Mas, ao chegar e espreitar os dois homens que continuavam seu serviço, tremeu com a possibilidade de enfrentá-los só. Ele recuou o cavalo e saiu em disparada para buscar ajuda. No caminho deparou-se com o velho Bonifácio.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Bonifácio! — berrou. — Tão ali no mato. Dois homens com a guria. O negrinho também e...</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— E tu não ajudaste seu merda? — trovejou Bonifácio. — Tu só eras macho contra homens acorrentados no poste! — e deferiu-lhe um golpe com o rebenque na face, que começou a brotar sangue de imediato. — Arranca-te daqui!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Bonifácio esporeou o tordilho mato adentro sem hesitar, e irrompeu com o cavalo no meio dos dois homens. Mesmo com seus oitenta anos, ele não os deu chance alguma: cortou-os aos dois com certeiros golpes de facão... Mas já tinham feito a judiaria.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">O negrinho, seu amigo desde sempre, jazia com a garganta cortada num canto, o terror ainda explícito no rosto. Bonifácio foi verificar a menina, mas esta já não respirava. O homem pressionara demasiado forte seu pescoço frágil e a sufocara até a morte. O velho “índio” sacou seu lenço e limpou o sangue que corria pelas pernas de Rosário, depois tornou a vestir-lhe a saia. Poderia poupar os pais pelo menos daquilo. Eles não precisavam saber de tudo o que ocorrera. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Quando os outros peões começaram a chegar, ele contou como tudo acontecera. O patrão, com ódio no coração, deixou uma lágrima percorrer seu rosto.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Foi culpa do negrinho — ele disse sem pena. — Ela vinha encontrar com ele, tenho certeza.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Pois meça suas palavras — advertiu-lhe Bonifácio. — José matou sozinho um dos três. Talvez se o teu capataz não tivesse fugido os dois ainda estariam vivos.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Armando então percebeu nunca ter se arrependido tanto por proferir algumas palavras como naquele momento. Jurou para si mesmo que levaria flores todos os dias na sepultura no gurizinho até o dia de sua morte.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">— Pegue tuas coisas e suma da minha estância — disse para Juvêncio num tom que fez este estremecer. O covarde não pensou duas vezes e partiu.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">——————— // ————————</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Desde então, a quem chega à Estância do Paredão, no interior do Rio Grande do Sul, é permitido ver duas cruzes lado a lado, no alto de uma coxilha, sempre cobertas de flores. Ali jazem Rosário, a doce menina dos cabelos dourados, e José de Deus, o guri que jamais assoprara as chamas de uma vela de um bolo de aniversário.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-40437533361836518982011-03-27T18:39:00.000-07:002011-09-01T14:49:30.505-07:00A Organização do Ópio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoJRmsKi6n47ivExMYoTSeetUngBKMRcRneiiuRpet3MvIeZx1_8LEGA-QpE6vyY9ekuTbv2MQumL2Ldxg3ovY6Sci1x20grlfe4VbiPK1XPZdeKvLg76Qpem3svmgJQ3JPXTcVq3ETbI/s1600/aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoJRmsKi6n47ivExMYoTSeetUngBKMRcRneiiuRpet3MvIeZx1_8LEGA-QpE6vyY9ekuTbv2MQumL2Ldxg3ovY6Sci1x20grlfe4VbiPK1XPZdeKvLg76Qpem3svmgJQ3JPXTcVq3ETbI/s320/aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Chovia <st1:personname productid="em Sherlock. Faltavam" st="on">em Sherlock. Faltavam</st1:personname> dez minutos para a meia-noite e os fósforos haviam acabado. Recriminei-me por ter aversão a isqueiros, e como eu não queria esfolar as mãos esfregando dois gravetos para produzir fogo, saí para comprar mais fósforos.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Havia um bar próximo a minha casa/escritório, então resolvi dar folga ao meu velho opala e andar um pouco. Com exceção de alguns cães e gatos vira-latas que disputavam seu jantar nas lixeiras, a rua estava deserta. Os finos pingos de chuva desfragmentavam-se no meu chapéu e o meu sobretudo estava sendo pouco útil com todo aquele frio. Apressei o passo e em poucos minutos cheguei ao Alambique Bar.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O lugar estava cheio e quente. Um punhado de adolescentes entretinha-se na única mesa de sinuca, enquanto, nas mesas, alguns outros desocupados procuravam o fundo das garrafas. O balcão estava vazio, e foi para lá que me dirigi.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O seu Joaquim, dono bar, armado de cabelos brancos e bigode avantajado, veio me receber, sorridente.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O que vai ser hoje, Dash?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Fósforos e um uísque duplo.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Gelo?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não, à cowboy.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Servida a bebida, tomei um trago e acendi um cigarro.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Seu Joaquim, já ouviu aquela do português que montou uma fábrica de papel higiênico?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Oh, raios! Por que não te engasgas com o uísque?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Eu já sabia que o velho responderia daquela maneira, mas fazer o que? Eu não podia resistir à tentação de contar piadas de português para o único português que eu conhecia.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O seu Joaquim escapou da minha piada, indo levar cervejas para os rapazes da mesa de sinuca. Fiquei sozinho com a inconfundível e irritante voz do Galvão Bueno que era cuspida de uma TV <st1:metricconverter productid="29 polegadas" st="on">29 polegadas</st1:metricconverter>, onde passava a reprise de um programa esportivo. Peguei o controle remoto sobre o balcão e comecei a percorrer os canais, a fim de encontrar algo interessante, quando uma voz embaralhada fez-se ouvir em algum canto.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ei, mané, deixa no canal de esporte!</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Voltei-me na direção da voz e notei um par de olhos inchados pelo álcool, pregados a uma cara de espantalho. Abri meu sobretudo e deixei à mostra o cabo da Magnun 44 no coldre de ombro, gesto esse que fez com que o bêbado perdesse a vontade de dialogar. Diabos! Um dos motivos para eu nunca ter me casado, era ter que discutir com quem fica com o controle remoto. Não seria àquele borracho que eu daria esta ousadia. Sintonizei no canal de desenhos, onde o Tom, com aquela impagável expressão de maldade, dinamitava a toca do Jerry. Olhei para traz, verificando se o bêbado aprovava, e ele presenteou-me com um sinal positivo com o polegar e um sorriso banguela. Dei a discussão por encerrada.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Bebi o restante do meu uísque e, após despedir-me do português, tomei o rumo de casa. A chuva ficara mais forte e eu refiz o caminho que há pouco percorra com uma sensação de dejavu. Quase chegando, notei que dois cães remexiam em algo na calçada em frente à porta do meu prédio. Da distância em que eu estava, pareceu-me ser um enorme saco de lixo, mas, chegando mais perto notei que, para o meu azar e principalmente para o dele, não era.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O cadáver jazia na calçada sobre uma poça de sangue. O pequeno punhal enterrado no peito deixava claro a causa da morte. O corpo do rapaz ainda estava quente, o que provava que ele fora morto ali mesmo há poucos minutos. Usando o meu lenço, revistei os bolsos e encontrei um maço de cigarros estranho: a embalagem era de papelão impresso com letras chinesas, e a falta dos avisos do ministério da saúde dava a entender que eram fabricados clandestinamente. Usando a câmera do meu celular, tirei algumas fotos do morto, dando destaque ao punhal com cabo em forma de dragão enterrado no peito. Feito isso, disquei o número do Marreta.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Alô?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Alo, Marreta?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Fala, Dash.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Te acordei?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não. To atolado de trabalho até o pescoço. A quadrilha do Gringo já assaltou três bancos nesse mês e a imprensa ta nos meus calcanhares.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Lamento não ser uma boa hora, mas escuta essa: tem um defunto na porta da minha casa.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Porra, Dash! O que você aprontou desta vez?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Eu nada. Saí há pouco para comprar fósforos e quando voltei tinha um maldito defunto na minha porta.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Quando você diz na sua porta...?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Na calçada, em frente à porta do meu prédio.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Como ele é? Pode ser que seja alguém do bando do Gringo, eu soube que eles andaram se pegando entre si.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Homem branco, vinte a vinte a cinco anos com um punhal chinês cravado no peito.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Um punhal chinês?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Porra, Marreta! Se quiser saber mais ligue para o disque assassinatos. Venha ver você mesmo.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Eu não posso agora, vou mandar dois homens. Não saia daí.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Acendi um cigarro e fiquei aguardando a polícia chegar, enquanto assistia a água da chuva carregar o sangue do rapaz para um bueiro. Cerca de dez minutos depois, um Vectra preto dobrou a esquina e estacionou próximo à cena do crime.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Dois policiais à paisana desceram do carro. Um deles era o Sargento Portela, meu velho conhecido: um negro de quase dois metros de altura, na casa dos cinqüenta anos, usava bigode e era completamente calvo. O outro era um homem jovem que eu não conhecia. Usava tanto gel no cabelo arrepiado que seria capas de quebrar um bloco de concreto com ele.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Como aconteceu? — perguntou-me Portela, enquanto trocávamos um aperto de mãos.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não sei, eu saí há uma hora e quando voltei ele estava aí. Quem é o novato?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O rapaz estava parado ao lado de Portela como um filho obediente, olhando com uma expressão assustada para o cadáver.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Este é Fábio Tavares. É a sua primeira semana na ativa, e me mandaram cuidar dele por uns tempos. Fábio, este é Malcon Dash, detetive particular licenciado.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Apertamos as mãos e eu perguntei:</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Está tudo bem, garoto? Você parece um pouco pálido.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ele pigarreou.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Tudo bem, tudo bem, eu só...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Sei como é. Primeira vez que vê um cadáver, não é? — e lhe dei três tapinhas nas costas, mais para debochar do que para acalmar — Você se acostuma.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Bem, vamos ao trabalho. — disse Portela.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não vão chamar a perícia? — perguntei.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Que nada. O chefe quer tudo por baixo dos panos. Se a imprensa souber de mais este crime nessa semana, irão foder com ele.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Eu gostava do Portela, porque ele era das antigas, assim como eu. Eu nunca entrei para a polícia para não ter que seguir certas regras, mas o Portela, apesar de ser policial, não hesitava um instante em quebrá-las.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Qual vai ser o procedimento? — o novato, recuperando um pouco da sua cor natural.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Procedimento? — riu Portela — Vamos tirar algumas fotos, jogar o cara na mala e levar para o necrotério.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O sargento foi até o carro buscar uma câmera digital e o novato, munido de luvas plásticas, começou a revistar os bolsos da vítima, tentando não vomitar por cima do corpo e foder com os caras da perícia. Pensei em dizer para ele que não encontraria nada, mas resolvi deixá-lo sofrer mais um pouco. Terminada a revista, enquanto Portela tirava algumas fotos, o novato tirou do bolso um minúsculo gravador e começo a falar:</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
“Homem caucasiano, cabelos pretos, aproximadamente um metro e oitenta de altura...”</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ele ficou por dois minutos falando besteiras deste tipo. Registrou no gravador desde a hora aproximada da morte até as roupas que o defunto usava. Aquilo já estava me deixando nervoso.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
“Possível causa da morte: ferimento causado por arma branca de origem oriental...”</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— “Possível causa da morte”? — explodi — Jesus Cristo, o punhal ta cravado até o cabo! Afogamento é que não foi.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O garoto calou-se, não se envergonhado ou amedrontado. Por fim, os dois policiais, como já previra Portela, jogaram o cara na mala do carro e deram o fora.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Entrei em casa e preparei um café que bebi enquanto examinava aqueles estranhos cigarros. Eram compridos, marrons e fedorentos: cigarros de ópio. Eu ainda não tinha certeza do motivo que me levou a não entregá-los para os rapazes da polícia, mas de uma coisa eu sabia: uma investigação no bairro chinês seria interessante.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O dia amanheceu sombrio <st1:personname productid="em Sherlock. A" st="on">em Sherlock. A</st1:personname> chuva não cessara e o frio continuava intenso. Após um café da manhã com um pão de dois dias e uma manteiga rançosa, subi no meu Opala e parti rumo ao Nova Xangai, o bairro chinês.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Como acabara de amanhecer, o trânsito ainda fluía rapidamente, então apenas quarenta minutos foram suficientes para atravessar a enorme Sherlock e chegar ao meu destino.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ao cruzar a linha imaginária que marcava a fronteira do bairro chinês com o restante da cidade, tive a sensação de ser transportado para outro mundo. A obscuridade e os traços rudes de uma Sherlock que, na aparência, parecia não ter saído dos anos quarenta, davam lugar a um mundo multicolorido, de arquitetura alegre e estranhamente bonita.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Estacionei meu Opala logo na entrada do bairro e decidi fazer minhas buscas a pé.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Pelo menos o espaço de dez quilômetros quadrados do Nova Xangai era relativamente pequeno para a minha investigação, porém eu não tinha a menor idéia de por onde começar.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Passei a manhã inteira perambulando pelas ruas sem fazer progressos. Minha idéia inicial foi procurar por algum lugar que tivesse um dragão como símbolo, algo relacionado com o punhal, mas logo descartei essa possibilidade, pois quase a metade dos estabelecimentos comerciais tinha o sinistro bicho impresso em suas fachadas. Então resolvi me agarrar a minha outra pista: os cigarros de ópio.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Perdi mais duas horas perguntando aqui e ali onde poderia encontrar cigarros como aqueles, mas todas as respostas eram negativas. Boa parte dos moradores do bairro chinês era de descendentes da raça nascidos no Brasil, mas me iludi ao pensar que seria fácil extrair informações daquelas pessoas. Como seus pais, eram reservados, e tinham receio de abrir o jogo com um homem de olhos redondos como eu.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Já passava da 1h da tarde e o meu estomago me lembrou que já era hora de lhe dar a devida atenção. Fui até uma rua onde havia dezenas de barracas de feirantes vendendo alimentos rápidos ou artesanatos. Circulei um pouco entre elas à procura de algo comestível. Resisti à grande tentação de provar o bife de cachorro e o espetinho de escorpião, e acabei comendo uma coisa estranha que me juraram ser frango frito.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Estomago forrado, retomei minhas buscas. Após mais uma hora infrutífera, vi algo que poderia me ajudar a dar o primeiro passo: um adolescente negro usando calças largas, boné para o lado e uma camiseta que tinha a frase “Sou careta, não uso drogas”, encostado numa parede fumando um baseado. Ao ver aquele distinto cidadão que, como eu, estava completamente fora de lugar naquele bairro, tive um pressentimento de que as coisas começariam a dar certo. Fui até ele.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Amigo, tem fogo?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ele foi pego de surpresa. Com certeza não esperava ser perturbado por ninguém estando onde estava. O garoto puxou um isqueiro do bolso e eu puxei do meu o maço de cigarros de ópio e pus um na boca. Com esse meu gesto ele sorriu.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Esse é dos bons, heim xará?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Os melhores. Quer um?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— To fora, cara. Isso mata.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Peguei o isqueiro da mão dele, mas não acendi o cigarro.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Você não tem medo de fumar maconha aqui no meio da rua, na frente de todos? — perguntei.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Ta brincando, cara? No bairro chinês? Aqui é o único lugar da cidade onde um negro fumando “um” é invisível.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— E a polícia?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— A polícia não vem pra esses lados. Os chinas não incomodam eles e eles não incomodam os chinas. Sacou?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Saquei.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Mas e aí, vai ascender o bagulho ou não?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Hum, não sei. Só tenho mais dois desses. Ganhei de um amigo, mas não sei onde consigo outros.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— É fácil, cara. Siga em frente por essa rua aqui e vire a terceira, não, a quarta rua à direita, ande por mais uns cinqüenta metros e vai encontrar um restaurante, o Dragão Verde.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Um restaurante?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Só fachada. É lá que vendem esses cigarros, mas ó: tem que ter grana, cara. Esse bagulho aí não é barato não.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Obrigado.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Guardei o cigarro de ópio de volta no maço e segui na direção que o garoto havia indicado. Andei por uns minutos quando meu celular tocou. Era o Marreta.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Você nem sabe a merda em que eu me meti, Dash.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Que foi?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Sabe o cara assassinado perto da sua casa?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O que tem ele?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— É sobrinho do prefeito.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— E daí, você quer que eu chore?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não brinque Dash. O prefeito me deu dois dias de prazo para prender o assassino do garoto, se não ele torna o caso público e me ferra de vez. Do jeito que estão as coisas com esse negócio dos assaltos a banco, ele consegue isso só com uma ligação.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Fique tranqüilo, meu velho. Já estou trabalhando nisso. Mais tarde te ligo.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Como assim? Você está investigando o crime?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Arrã.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Já descobriu algo?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Me dê uma hora e te respondo.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Desliguei.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Pouco depois, cheguei ao Dragão Verde. Dava para saber o tamanho que viria a conta depois de um jantar, só olhando para os móveis e a decoração do lugar. Tudo de gosto refinadamente caro. Desde as esculturas orientais que enfeitavam as paredes até os uniformes dos garçons.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
A recepcionista me recebeu, oferecendo uma mesa. Como resposta, mostrei discretamente a ela o maço de cigarros. Ela pediu que eu a seguisse e eu obedeci. Fui conduzido até uma sala completamente vazia, atrás da recepção. As paredes não tinham pintura e o piso era de cimento. Não havia mesas nem cadeiras, nada. Apenas uma lâmpada fluorescente que deixava aquela espécie de sarcófago de cinco metros quadrados bem iluminada. Aguardei por alguns minutos, e um chinês que tinha a metade do meu tamanho chegou.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Quantos cigarros vai querer? — ele perguntou com um sotaque carregado.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Eu não fumo essa merda. Quero falar com o seu patrão.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O baixinho ficou surpreso, mas logo se recuperou.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Você é policial?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Eu sou o cara que vai estourar os seus miolos se não fizer o que eu mando. — e saquei o Magnun, apontando para a testa dele.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O china hesitou, mas bastou eu puxar o cão da arma, engatilhando-a para que ele abrisse o bico.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Na cozinha. — gaguejou. — Ele está no depósito atrás da cozinha.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Obrigado. — com um coronhasso na cabeça, o botei para dormir. — E boa noite.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Abri a porta da salinha e olhei <st1:personname productid="em volta. Ningu←m. O" st="on"><st1:personname productid="em volta. Ningu←m." st="on">em volta. Ninguém.</st1:personname> O</st1:personname> meu nariz me revelou que direção tomar para chegar à cozinha. Segui por um estreito corredor e cheguei até ela. Após uma rápida observação, fiz um registro em minha memória para nunca ir comer naquele lugar. Uma pilha de louça suja lotava a pia, manchas de mofo decoravam as paredes, inúmeros aquários de água esverdeada serviam de moradia para peixes, crustáceos e rãs, que eram preparados na hora. Isso para não falar das incontáveis baratas que corriam por todos os lados. A não ser que elas também fizessem parte da criação, aí eu já não sabia.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Atravessei rapidamente pela enorme cozinha onde nenhum dos cozinheiros pareceu me notar, e cheguei até a única porta que existia além dos banheiros. Só poderia ser o covil do chefão. Entrei.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
O local era um enorme galpão, onde havia caixas e mais caixas de madeira que só podiam conter contrabando. Havia quatro chineses sentados em volta de uma grande mesa. No momento em que eu entrei dois deles levantaram-se e vieram em minha direção. O mais velho, obviamente o chefe, ergueu a mão num gesto que pedia calma aos dois capangas. Então ele falou algo em chinês para um dos homens e este traduziu para mim.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O senhor Wang perguntou se no seu país é costume entrar na casa de uma pessoa sem ser convidado.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Pergunte se no país dele é costume apunhalar pessoas no meio da rua.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ele retransmitiu a mensagem no seu idioma. Wang respondeu e o capanga traduziu.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O senhor Wang disse que antes de falar de negócios são necessárias apresentações. Quem é você?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Trabalho para o prefeito. — menti. — O garoto que vocês mataram ontem é seu sobrinho.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Traduções feitas e refeitas...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— E por que pensa que nós o matamos?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Não existem muitos assassinos que utilizam punhais com cabo de dragão na cidade. Aposto que se pegarmos as digitais de vocês, alguma delas vai bater com as que encontramos no punhal. Sem falar no ópio que vocês estão vendendo por aí. Por que mataram o rapaz?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— O senhor Wang disse que de onde ele vem, quem não paga suas dívidas é punido com tal sentença.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— E de onde eu venho não é esperto matar um homem de quem se tem dinheiro a receber. O homem morre e a dívida também.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— A dívida morre, mas o exemplo fica. — traduziu o capanga.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Está bem, que tal pararmos de filosofar e ir direto ao ponto? Quero que todos você se entreguem à justiça sob acusação de homicídio e tráfico de drogas.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Se não? — desta vez o capanga falou espontaneamente.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Se não vamos forçá-los a fazerem isso. Se eu não fizer uma ligação daqui a cinco minutos, dezenas de policiais irritados por terem que respirar esse mesmo ar nojento que vocês respiram, virão até aqui para chutar o rabo amarelo de vocês até a delegacia.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Wang não caiu no um blefe e fez sinal para que os capangas viessem para cima de mim. Finalmente o baile iria começar.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Os dois avançaram ferozes na minha direção. Desferi um cruzado no que estava à minha esquerda, mas ele desviou. Recebi um golpe do que estava na direita que acredito ter sido um chute, pois foi tão rápido que não percebi. Resolvi apelidá-lo de Bruce Lee. Cambaleei e o que estava na esquerda emendou uma seqüência de socos que me botou na lona. Vou chamá-lo de Jeckie Chan. Bruce Lee me chutou no estomago enquanto eu estava caído. Senti o golpe, mas agarrei sua perna e o derrubei. Levantei-me já desviando de um chute do Jeckie Chan e o acertei com um gancho no queixo. O impacto fez com ele desse dois passos para trás e deixasse a guarda aberta. Aproveitei o momento e apliquei um cruzado que o fez voar por cima de algumas caixas. Bruce Lee havia se levantado. Investi contra ele com um reto mirando o nariz, mas ele se esquivou e me acertou com cinco ou seis socos que foram tão rápidos que mal vi suas mãos, e arrematou girando o corpo e me acertando com a parte externa do pé na têmpora. Beijei a lona novamente. O Kung Fu daqueles dois estava me matando.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Levantei-me e fiquei outra vez na frente dos dois. Nós três sangrávamos, eu mais que eles. Vieram juntos para cima de mim, desferindo socos e chutes de todos os jeitos possíveis. Desviei-me como pude de alguns e dei o troco em forma de ganchos, retos e cruzados. O combate era selvagem. Eles com a sua técnica milenar bem elaborada, e eu com meus clássicos socos e algumas cabeçadas.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Jeckie Chan tentou um chute alto, buscando minha cabeça. Segurei sua perna com ambas as mãos e, rodopiando em torno de mim mesmo, lancei-o longe. Na queda ele bateu fortemente a cabeça e foi a nocaute. Restava o Bruce Lee. Com um movimento que eu não esperava, ele chutou minha perna, acertando atrás do joelho. O golpe fez com que eu me encolhesse deixasse a guarda baixa. Meu adversário arrematou com uma esquerda no meu rosto que quase me fez perder os sentidos.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Eu me encontrava deitado e ele veio para cima de mim, tentando me chutar. Usei nele o mesmo golpe que ele acabar de aplicar em mim: chutei a parte de trás da sua perna. Ele se dobrou e eu deferi um poderoso soco em sua garganta. Bruce Lee estava de joelhos com as duas mãos na garganta tentando em vão respirar. Aproveitei o momento e apliquei um violento reto em seu nariz. Pude sentir os ossos se quebrando com o impacto da minha mão, e ele caiu no chão. Acredito que ele não levantaria, mas para não restar dúvidas, chutei sua cabeça com toda minha força. Aquilo me fez bem, e então eu chutei de novo. Há muito tempo eu não apanhava tanto em uma briga.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
A luta mal havia acabado e o chinês que estava ao lado de Wang, de quem eu já me esquecera, ergueu-se de súbito e lançou algo contra mim. Por puro instinto joguei-me para o lado e um punhal com cabo de dragão passou zunindo por mim para cravar pesadamente em uma viga de madeira às minhas costas. Era ele o assassino do garoto. Eu já estava cansado daqueles golpes de kung fu e, exausto como eu estava, provavelmente perderia outra luta no mano a mano. Saquei o Magnun do coldre e disparei. A bala explodiu no peito do chinês, fazendo com que ele tombasse para trás, já sem vida. Wang tentou um movimento, mas eu estava atento.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Nem pense nisso. — engatilhei o revólver. — Jogue a arma para cá... Isso, assim. Agora se deite no chão com as mãos na cabeça, bem devagar.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Ele obedeceu e eu puxei uma cadeira para me sentar. Exausto, cuspi o sangue que preenchia minha boca, acendi um cigarro, e telefonei para o Marreta.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Pode mandar o prefeito ficar quietinho, meu velho. O garoto estava envolvido com traficantes chineses.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Não brinca.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Já peguei alguns, venha já para cá.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Para cá, onde?</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
— Anote o endereço.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Algum tempo depois, ele chegou com a cavalaria. A polícia invadiu o restaurante e levou várias pessoas presas, inclusive Wang, o chefe da organização. Após agradecimentos e tapinhas nas costas, dei o fora dali, subi no meu velho Opala e fui para casa.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
Dois dias depois, o principal jornal da cidade noticiava o assassinato do sobrinho do prefeito e a imediata prisão dos culpados, com destaque para a mais que perfeita ação investigativa da polícia, desmantelando a organização do ópio. A capa do jornal era ilustrada com a foto do meu amigo Marreta, o chefe de polícia Dagoberto Silvério, trocando um aperto de mãos com o prefeito. Uma notícia com bem menos destaque, falava de um novo assalto a banco <st1:personname productid="em Sherlock. Talvez" st="on">em Sherlock. Talvez</st1:personname> eu tivesse que ajudar o velho Marreta com a quadrilha do Gringo também. Mas por enquanto eu só queria uma boa semana de descanso.</div>
Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-7923127166268139762011-03-27T18:37:00.000-07:002011-03-27T18:45:55.365-07:00Joguem aos Peixes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5brvBI91hIEZz3shFEPpyyDSynfhofTrDnVaW9quYP8pXun_IWMy4Zgvsl1NZ9ZHdqky-wdFgNsZXQnj8x0OZZvZOBoU298UWL0DWzpGQP5d8tmRfxUUyK6Puv0ve9yEXiKe59hDdEGA/s1600/Detective-with-smoke-flipped.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5brvBI91hIEZz3shFEPpyyDSynfhofTrDnVaW9quYP8pXun_IWMy4Zgvsl1NZ9ZHdqky-wdFgNsZXQnj8x0OZZvZOBoU298UWL0DWzpGQP5d8tmRfxUUyK6Puv0ve9yEXiKe59hDdEGA/s320/Detective-with-smoke-flipped.JPG" width="320" /></a></div><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Meu nome é Malcon Dash.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Essa coisa de querer ser detetive começou quando eu ainda estava na escola, na quarta série, quando a Marcinha me ofereceu um cachorro quente e uma coca-cola em troca de eu descobrir quem estava assaltando sua lancheira às escondidas. Tive 95% de sucesso no meu primeiro caso, pois, oferecendo um gole da coca para um e uma mordida do cachorro quente para outro, descobri que o ladrão de lanches era o Marreta, um enorme garoto da quinta série. Os 5% que faltaram para o meu total sucesso foram devidos à surra que levei do Marreta.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Foi por causa do Marreta que comecei a praticar boxe, pois um bom detetive precisava saber se defender. Demorei uns três anos para conseguir dar minha primeira surra no Marreta. Na quinta série consegui acertar um cruzado no olho dele, mas a coça que levei fora duas vezes maior que as anteriores. Enfim, foi lá pela sétima ou oitava série que consegui vencê-lo pela primeira vez. Neste meio tempo minha fama de detetive foi crescendo. Meus serviços iam desde encontrar ladrões de mochila a vigiar os namorados das meninas do ensino médio.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Tenho um revólver Magnun calibre 44, como o dos filmes do Dirt Harry, pois um bom detetive precisa de uma arma que imponha respeito — coisa que eu não conseguiria com um 22 —. Acreditem. Por mais valente que seja o bandido, ele treme em frente ao cano de um 44. É como dizia meu velho pai, que Deus o tenha: “É atrás de uma mulher e na frente de uma arma que se conhece o homem.”</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Hoje tenho quarenta anos. Enquanto conto como tornei-me o melhor detetive licenciado de Sherlock, estou sentado atrás da minha escrivaninha, com os pés jogados para o alto, sobre ela, esperando algum cliente. O cinzeiro transborda de baganas de cigarro, meu único vício. Além do café. E do uísque. Sobre a escrivaninha há algumas pilhas de papéis e recortes de jornais de velhos casos. Hoje são verdadeiros, mas antigamente, no começo, eu espalhava qualquer papel aleatoriamente para dar ao escritório um ar de interessante. Por este mesmo motivo que uso as roupas que uso: para ser interessante. No mesmo estilo dos detetives dos anos quarenta, uso um paletó escuro com a gravata frouxa no colarinho, e um chapéu de feltro. Não que estas roupas sejam tão incomuns em Sherlock, mas eu não poderia ser um detetive de jeans e camiseta. Onde eu esconderia o 44 que carrego no coldre de ombro? Também uso alguns disfarces de vez <st1:personname productid="em quando. Certa" st="on">em quando. Certa</st1:personname> vez tive que me disfarçar de cowboy de rodeios para pegar um ladrão que atuava no interior, mas esta história fica para outra vez. Está chegando cliente.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Era uma garota loira, bonita, por volta dos vinte anos. Dava para saber a idade por causa do par de seios dez para as duas, e não quinze para as três, como os da minha última namorada. Fiz sinal para que se sentasse na cadeira à minha frente, ela obedeceu e depois sacou um lenço da bolsa para enxugar uma lágrima. Senti-me um otário por reparar nos seus seios num momento daqueles, mas o que eu podia fazer?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Em que posso ser útil?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Meu pai está sumido há cinco dias. Saiu para o trabalho na segunda, e não atende o celular e nem manda notícias desde então.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Por que não foi à polícia? Eles procuram de graça.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Nós gostaríamos de um pouco de discrição, sabe?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Nós?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Minha mãe e eu.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Tem uma foto do seu pai? Preciso saber tudo: nome, profissão, idade, seus hábitos...</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Acho que sei onde ele está, senhor.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Dash! Me chame de Dash.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Uma das coisas que me deixavam puto era uma garota jovem e bonita me chamar de senhor. Diabos!</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Se sabe onde ele está, por que veio a mim?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Bem, eu não sei exatamente. Eu já o segui umas duas vezes até um prédio, mas não sei o número do apartamento que ele usava.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Usava para quê?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Ela inclinou-se sobre a mesa e trouxe seu rosto próximo ao meu. Tentei em vão não olhar seu decote. Então ela sussurrou, parecendo ter medo de ser ouvida:</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Acredito que meu pai tenha uma amante.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Que novidade.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— E sua mãe, pensa o mesmo?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Minha mãe sofre de Alzheimer, senhor. Às vezes não reconhece nem a mim.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">O “senhor” de novo. Não fosse pela situação da garota e pelo par de seios eu a chutaria para fora.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Entendo. Preciso do endereço do prédio, a foto do seu pai e os dados que te pedi.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Ela me deu uma foto do 3x4 do pai e foi me dizendo tudo o que sabia sobre ele. Chamava-se José de Almeida, tinha 45 anos, e era dono de uma imobiliária. À medida que ela falava, eu tomava nota no meu caderninho. Ao fim do relato levantei-me da cadeira. O gesto universal para dizer que a conversa havia acabado. A garota (que se chamava Patrícia.) também levantou-se.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Cobro quinhentos paus a diária e mais despesas, como gasolina e algum possível suborno, por exemplo. Está bem assim?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Está. Dinheiro não é problema.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Ok. Não se preocupe. Encontrarei seu pai, e em breve mandarei notícias.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">A garota deixou o escritório. Eram 11h30min e como parecia ser um simples caso de traição seguido de deserção do casamento, fácil de resolver como tantos outros, resolvi ir almoçar no Boca Nervosa. A única coisa em Sherlock melhor que o filé com fritas do Boca Nervosa, era a Anabela, a garçonete do lugar.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Subi no meu opala e me dirigi ao restaurante. Dez minutos depois eu chegava ao Boca Nervosa, que ficava numa ruazinha pouco movimentada do centro. Sentei-me ao balcão, como de costume.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— O mesmo de sempre, Dash? — perguntou Anabela, linda como sempre naquele vestidinho curto e justo.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— O mesmo, boneca.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Pouco depois chegava minha refeição acompanhada de uma caneca de cerveja. A grande vantagem de ser o próprio patrão é poder beber em serviço.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Então, Bela, quando vamos sair para tomar aquela bebida?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Eu não bebo Dash, você sabe.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— E um cineminha, então? Está passando um novo do Chuck Norris.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Outra hora, Dash.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Uma comédia romântica, quem sabe?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— O problema não é o filme, Dash.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Diabos! Em Sherlock apenas uma garota em mil não gosta de caras durões que carregam uma arma. Para meu azar, Anabela era uma dessas.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Como minhas cantadas não estavam rendendo, resolvi ir de uma vez até o tal prédio onde a filha presumia estar o pai desaparecido. O lugar ficava na zona norte da cidade. Um prédio de oito andares, cinco apartamentos por andar. O porteiro era um baixinho barrigudo com a camisa manchada de gordura, os cabelos oleosos e a barba por fazer. O tipo de homem que venderia a própria mãe por uma nota de dez. O tipo de homem de quem eu precisava.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Amigo, conhece este homem? — perguntei, mostrando a foto que Patrícia me dera, acompanhada da nota de dez. Ele já ia abrir a boca, mas uma faxineira saiu do elevador de serviço praguejando:</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Jorge, os vizinhos já estão reclamando do mau cheiro no 403, está contaminando o corredor. Bati na porta, mas ninguém atende.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Era o lugar que eu queria. Quando não se sabe que rumo tomar, siga sempre seu nariz. Guardei a foto e a nota de dez e, antes que o gordinho resmungasse, peguei o elevador.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">A faxineira tinha razão. O quarto andar estava fedendo. Aquele cheiro não combinava com o ambiente limpo e bem iluminado do prédio. Era um cheiro que eu conhecia bem: cheiro de morte. Parei em frente à porta do 403. Não adiantaria bater, pois a faxineira acabara de dizer que tentara sem sucesso. A fechadura era daquelas que se abriam só de olhar, mas eu não estava afim de trabalhar nela sentindo aquele fedor. A solução seria o bom e velho pontapé na porta. Foi o que fiz. A porta escancarou-se para trás no primeiro golpe, e o fedor de carniça, ainda mais repugnante, invadiu minhas narinas.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Acendi um cigarro e o cheiro se misturou ao ambiente. Tabaco e morte. O palco digno para uma campanha do ministério da saúde. Mas a causa da morte em questão não fora o cigarro. Fora torcicolo.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">A mulher ruiva jazia, nua, pendurada numa forca amarrada à viga mestra do apartamento. Abaixo do corpo havia uma cadeira tombada. Tentaram forjar um suicido, mas os hematomas nos pulsos da mulher, causados por uma corda apertada, diziam o contrário: assassinato. Serviço de amador.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">O lugar estava na mais perfeita ordem. Comecei a procurar pistas. Sobre a mesa de centro encontrei algumas correspondências em nome de José de Almeida — contas de luz, extratos bancários, etc. —, o que indicava que Patrícia tinha razão a respeito do apartamento ser freqüentado pelo pai. Na verdade o apartamento pertencia ao pai. Em meio a estes papéis encontrei um papel menor, descartado dum bloco de anotações. Nele estava escrito, numa caligrafia quase ilegível, estilo médico: “Rita. Segunda, 23hs. Dama da Noite.” O Dama da Noite só poderia ser a conhecida casa noturna de Sherlock. Vasculhei uma bolsa feminina que estava sobre o sofá, e o documento de identidade da falecida ruiva batia com o nome do papel: Rita. Maria Rita Albuquerque, 28 anos. Verifiquei o bloco de anotações sobre uma mesinha ao lado do telefone. Mesmo papel, mesma caligrafia. O que indicava que fora José de Almeida quem anotara o dia (o mesmo em que sumira), a hora e o local do encontro com a ruiva que estava pendurada bem ao meu lado.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Eu já tinha o que precisava. Não havia mais o que fazer ali. Peguei o celular e telefonei para o Marreta. Ah, esqueci de contar: o Marreta havia se tornado o chefe de polícia de Sherlock. Capitão Dagoberto Silvério. Nos tornamos bons amigos, e ele casou-se com a Marcinha, quem diria?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Alô, Marreta? Tenho um presunto pra você... Não, desta vez não foi eu. Anote o endereço... Rua Hipólito Mafra 266... Não, não vou esperar, to caindo fora... Pode deixar. Te mantenho informado... Marreta? Traga alguns incensos, o lugar fede.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Minhas pistas para descobrir o paradeiro de José de Almeida eram um cadáver e uma boate. Como a ruiva não poderia contar mais nada, o jeito era ir até a boate coletar algumas informações. E foi isso o que eu fiz.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Às 23hs eu chegava ao Dama da Noite. O lugar não era muito grande. Havia uma agradável banda de jazz no pequeno palco, algumas pessoas escoradas no balcão bebendo, e outras jogando sinuca nas duas mesas disponíveis no local. A boate, à primeira vista, não era grande coisa, mas o motivo de ela ser tão famosa na cidade era que ali podia se conseguir qualquer tipo de drogas a um bom preço. O dono do lugar, sabia eu, era o italiano Fabrício Andolini, um dos chefões da máfia local.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Fui até o balcão.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Ei, barman, um uísque e uma informação.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— O uísque eu posso servir, quanto à informação...</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Estou procurando um amigo — mostrei a foto —, chama-se José de Almeida. Esteve aqui na semana passada com uma ruiva chamada Rita.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">O barman era um tipo magricelo, de nariz aquilino e queixo quadrado. Hesitou evidentemente ao ver a foto de Almeida e mais ainda quando ouviu o nome da garota, mas não parecia estar disposto a abrir o bico.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Escuta aqui, cara, se você ta procurando encrenca não me mete no meio. Eu não quero nem saber se você é tira ou o que for. Eu não sei de nada!</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Ele sabia de algo. Tentei dar um incentivo a ele: puxei uma nota de cem e pus sobre o balcão. Ele titubeou por um momento e jogou um pano sobre a nota, depois se aproximou e sussurrou no meu ouvido:</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Aquele cara de jaqueta de couro na mesa do fundo trabalha pro Andolini. Ele sabe tudo o que você precisa. Agora se manda daqui.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">O homem que o barman indicara estava sentado em companhia de um copo de vodca e de algumas gramas de cocaína. Eu teria de agir rápido antes de ele partir para o mundo dos sonhos. Me aproximei enquanto ele sugava o pó pelo nariz usando uma nota de cinqüenta, e joguei a foto de Almeida sobre a mesa, bem no meio do pó que ele aspirava.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Preciso saber onde está esse cara.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Ele ergueu o olhar para mim. Estava alucinado com o efeito da droga.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Dá o fora, cara! Se não eu mesmo o chuto daqui!</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Acertei-lhe um cruzado no queixo que o fez tombar para trás junto com a cadeira. Em seguida saquei o 44 e encostei o cano em sua testa.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Escute aqui, seu verme, estou sabendo que você sabe sobre o paradeiro desse cara, e também sei que seu patrão tem algo a ver com isso. Então é melhor me contar tudinho, se não quiser que eu chute seu rabo até a delegacia.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Ele gaguejou:</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Se eu falar sou um homem morto.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Se não falar também é! — e engatilhei o revólver.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Ele hesitou um pouco e depois começou a cantar.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Tem um depósito no porto onde o Andolini recebe as drogas. Eu vi esse cara lá ontem a noite.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Onde exatamente fica esse depósito?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">O viciado me deu as coordenadas do lugar e eu me dirigi para lá.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Encostei o opala a uns cem metros do tal depósito e caminhei até lá. Era como todos os outros depósitos da zona portuária, a diferença era que neste, além do segurança em forma de armário, havia um BMW de quinhentos mil parado na entrada. O carro de Fabrício Andolini.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Pus um cigarro na boca e caminhei na direção do segurança. Ele tinha quase o dobro do meu tamanho.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Amigo, tem fogo?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Em resposta ele tentou sacar a uzi que tinha sobre o casaco, mas eu fui mais rápido. O meu 44 cantou e a bala explodiu no peito do gigante que tombou para trás derrubando a pequena porta lateral do depósito. De dentro do lugar quatro olhares atônitos eram dirigidos a mim. Reconheci em um deles o de Almeida que, para minha surpresa, foi o primeiro a jogar-se atrás de umas das várias caixas de madeira e começar a atirar. Os outros três o imitaram quase instantaneamente e eu não podia ficar pra trás. Escorei-me de costas para a parede ao lado da porta e acompanhei a banda fazendo meu clarinete calibre 44 tocar. Uma das minhas balas botou um dos caras para dormir, e o tiroteio apaziguou <st1:personname productid="em seguida. Ficamos" st="on">em seguida. Ficamos</st1:personname> naquela posição cerca de vinte minutos. De vez em quando um disparo cortava o silêncio que se formara, mas ficamos no mesmo impasse: eu não entrava, eles não saiam. Estava na hora de chamar a cavalaria. Telefonei para o Marreta explicando a minha situação e em menos de dez minutos comecei a escutar o ruído das sirenes. Oito viaturas lotadas de policiais chegavam ao local. Tudo terminara.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Os três homens saíram de mãos para cima, e, enquanto eram algemados pelos policias, um deles se dirigiu a mim com um carregado sotaque italiano:</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Sabe quem eu sou?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Fiz que sim com a cabeça. Era Andolini.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Vou mandar que o joguem aos peixes.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Não respondi à ameaça. Aqueles carcamanos sempre cumprem o que dizem. Mas eu estava tranqüilo, ele nem sabia meu nome.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">— Dash! — a voz do Marreta cortou o ar como um trovão. — Que merda aconteceu aqui?</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Andolini sorriu e foi empurrado para dentro de uma viatura.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Após as devidas explicações ao Marreta fomos todos à delegacia. Apertando José de Almeida descobrimos que foi ele quem matara a ruiva a mando de Andolini. Os dois trabalhavam juntos há anos. Andolini usava a imobiliária de Almeida como fachada para seus negócios sujos. Chamei Almeida de idiota por ter matado a garota dentro do próprio apartamento e deixado provas contra si mesmo, e ele respondeu que fora muito bem pago por aquilo e que iria viajar para o exterior na manhã seguinte, se eu não tivesse aparecido.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Depois de prestar depoimento fui liberado pelo Marreta. No dia seguinte eu procuraria Patrícia para informar a ela que o pai estava preso por homicídio.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-indent: 35.45pt;">Enquanto dirigia para casa naquela noite, eu ainda não sabia que um Alpha Romeo lotado de carcamanos cruzaria meu caminho... Mas isso é uma outra história.</div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-57270540937079270412011-03-22T06:57:00.001-07:002011-03-22T10:03:27.508-07:00Depois do Fim<p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Sempre gostei de pensar que a morte não seria o fim, mas sim um novo princípio. Talvez seja por isso que matei — direta ou indiretamente — tantos homens ao longo da minha vida sem sentir muito remorso. Não estou querendo dizer que não o senti, claro que o senti, mas não o bastante, acho. Não sei se fui punido como merecia, mas acho que sim. Provavelmente sim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Apesar dos meus erros, e não foram poucos, acredito ter levado uma boa vida. Casei-me (não de papel passado) com a melhor mulher que já existiu e a fiz feliz por todos os anos em que passamos juntos. Nunca tivemos filhos, porque não achamos importante tê-los. Freqüentemente um casal resolve gerar uma criança quando o casamento já não está lá essas coisas, então aquela nova vida traz alguma luz para as outras duas já um pouco apagadas. Nós, minha esposa e eu, nunca precisamos disso. Já éramos completos sem mais ninguém. Nunca olhei para outra mulher desde que a conheci, e tenho certeza de que ela também não se interessou por nenhum outro homem. Nunca precisamos ter amigos, também. Nada de jogos de carta aos domingos, jantares um dia na casa de cada um, etc. Foi sempre ela, eu e mais ninguém. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Eu era uma espécie de mercenário a serviço da ditadura militar brasileira. Não era militar, tampouco civil. Alguns me chamavam até de fantasma. Para o meu tipo de trabalho talvez eu precisasse mesmo ser um. Talvez eu fosse. Desde que completei 29 anos, meu nome foi apagado de qualquer documento: como se eu tivesse morrido só que sem atestado de óbito — morri para o sistema. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Eu recebia ordens diretamente do alto comando, e as coisas que me mandavam fazer jamais apareceram em qualquer jornal. A verdade é que a ditadura fui um poço de podridão. As coisas que são conhecidas hoje não são nem um terço do que realmente aconteceu. Poucos jornalistas chegaram perto de descobrir algo realmente podre, como alguns assassinatos em massa incluindo mulheres e crianças, e os que chegaram morreram antes de poder contar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Quando me recrutaram disseram que toda e qualquer missão designada a mim, seria para contribuir com o progresso do país. A verdade é que eu estava cagando para o progresso. Só o dinheiro me importava e eu ganhei muito. Dinheiro que eu não gastaria nem que vivesse trezentos anos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Entre tantas coisas que fiz a mando do governo, apenas uma não me saiu da cabeça. Foi uma missão simples se comparada a tantas outras, mas me marcou para sempre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Recebi ordens para matar um anarquista. Um cara, daquele tipo cheio de sonhos e ideais, que se acha intocável se estiver com a razão ao seu lado. Pobre coitado. Ele era um peixe pequeno, mas pisara em alguns calos que não deveria ter pisado, então me mandaram resolver o assunto. Serviço fácil.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Ele morava num prédio de apartamentos duma ruazinha secundária do centro, daquelas em que o movimento morre num domingo à tarde. Um dos meus homens estava de tocaia desde a madrugada de sábado, enquanto eu esperava num bar próximo, bebendo um café atrás do outro. Foi perto das seis da manhã que o dono do bar, sem saber que seria um pouco cúmplice do crime, perguntou se meu nome era Dagoberto (falso, é claro). Eu disse que sim e ele me passou o telefone. Era o meu homem, me informando que o alvo chegara em casa de porre. O trabalho dele estava concluído, e então começava o meu. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Fui até o prédio da futura vitima e me defrontei com um porteiro gordo, de cabelos oleosos e uma mancha de gordura na camisa. Dava para ver no seu olhar que venderia a própria mãe por alguns trocados. Bem, eu não lhe dei alguns trocados, mas uma quantia maior que do que ele ganharia em um ano de trabalho. Ele pegou sem pestanejar e deu o fora dali com um sorriso de orelha a orelha. O resto seria brincadeira. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">O saguão de entrada era apertado. Um papel de parede verde-desbotado cobria as paredes junto com algumas manchas de mofo. À direita havia um conjunto de armários de latão, para correspondências. À esquerda ficava a porta do elevador com a clássica plaquinha de aviso, comum aos elevadores da época: “ATENÇÃO: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.” À frente ficavam as escadas, e foi por elas que subi. A cada lance de doze degraus, havia uma curva para a esquerda, depois mais doze, e o andar seguinte. Segui assim até chegar ao sétimo andar. O corredor estava vazio e estaria completamente silencioso não fosse o ruído constante duma lâmpada com defeito que piscava ao fundo. Tomei à direita e fui até a porta número 76. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">A maçaneta era daquelas que abriam só de olhar. Aguardei alguns instantes para certificar-me que o interior estava completamente <st1:personname productid="em sil↑ncio. Estava. Abri" st="on"><st1:personname productid="em sil↑ncio. Estava." st="on">em silêncio. Estava.</st1:personname> Abri</st1:personname> a porta facilmente com uma chave de fenda, quase sem fazer barulho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">O apartamento estava imerso na penumbra, pois uma cortina escura bloqueava a luz do sol que tentava entrar pela única janela da pequena sala. O lugar era decorado por um papel de parede creme, de mais bom gosto que o verde-desbotado do restante do prédio, mas igualmente com manchas de mofo, o que recendia um leve cheiro de umidade no ar. Uma mesa de centro com algumas revistas e jornais velhos, e uma estante com livros amarelados era o que basicamente havia de móveis ali. À direita ficava uma porta entreaberta que julguei dar acesso ao banheiro devido aos azulejos que eu enxergava de onde estava. Na outra extremidade uma porta fechada, e no centro outra porta entreaberta. Fui em direção a esta, deslizando sorrateiramente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">O casal dormia pesado, mas provavelmente haviam brigado, pois a mulher deitara em uma ponta o mais afastado que podia do marido que há pouco chegara bêbado. Por um momento invejei aquele homem. Pensei que se pudesse escolher como morrer, talvez escolhesse daquele jeito: bêbado e dormindo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span style="mso-spacerun:yes"> </span>Apaguei aquilo da mente e tratei de concluir meu trabalho. Enterrei minha faca na garganta do homem e a deslizei um pouco para o lado. Retirei-a rapidamente e um guincho de sangue tingiu o lençol enquanto as pernas da vitima davam seus últimos espasmos; e um grunhido surdo morria antes de nascer em sua boca. A mulher teve um fim semelhante, e morreu antes de perceber alguma coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Sorri com satisfação pelo trabalho bem feito, já pensando em que gastaria o dinheiro ganho com ele, mas quando voltei-me em direção à porta do quarto, vi aquilo que me marcaria para sempre: uma garotinha de talvez quatro anos, estagnada a dois metros de mim, com seus longos cabelos escuros caindo pelo pijama branco, o urso de pelúcia pendendo da mão direita, e os olhos azuis muito vivos fitando-me sem expressão. Algum tempo se passou enquanto eu a olhava e ela a mim. Não sei se foram apenas poucos segundos, mas me pareceram horas; horas em que me perdi na profundidade azulada daquele olhar sem expressão que parecia sentir pena de mim, ao invés de medo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Foi quando recobrei meus sentidos, relembrando o treinamento que me ensinara a abandonar o local do assassinato o mais breve possível, sem deixar testemunhas. SEM DEIXAR TESTEMUNHAS! , gritava uma voz em minha mente a ponto de, de alguma forma, estourar os tímpanos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Os três passos que dei em direção à menina foram os mais difíceis da minha vida. Meus dedos apertavam com firmeza a faca que já tirara tantas vidas, ainda pingando sangue, prestes a tirar mais uma. Contemplei naqueles olhos inocentes o reflexo da lâmina, já pressentindo como seria a pele macia e límpida se partindo como manteiga, mas... minhas pernas fraquejaram. Um assassino calejado vencido pelo olhar corajoso e misericordioso de uma criança. Pela primeira vez eu falhara. O que consegui fazer foi acariciar levemente o cabelo da menina e sair correndo dali para só parar nas escadas a tempo de vomitar todo o café que bebera naquela noite. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Na rua encontrei um telefone público, de onde avisei a polícia sobre o crime. O último que cometeria. Eu havia me aposentado, mas aquele par de olhos azuis me perseguiria para sempre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Depois daquilo levei uma vida tranqüila com minha esposa em uma fazenda no interior. Vivemos felizes até que, já bastante idoso, um derrame me deixou mudo e tirou-me praticamente todos os movimentos do corpo. Ainda vivi por vários anos daquela forma: pregado a uma cadeira de rodas, de onde minha amada tirava-me para eu ir para cama ou quando precisava fazer minhas necessidades. Felizmente eu não precisava de palavras para explicar a ela o que eu queria. Um olhar bastava. Ela cantava para mim quase todas as noites, alisando minhas mãos mortas sem que eu pudesse a sentir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Numa tarde, dirigi-lhe um de meus olhares e ela sorriu, entendendo. Empurrou-me na cadeira de rodas até a entrada do banheiro, e deixou-me ali, enquanto enchia um copo d’água na pia. Tossi alto de repente, e minha amada, ao voltar-se para me olhar, deixou suas frágeis pernas escorregarem no azulejo úmido. A cabeça bateu de encontro à privada e quebrou-se como o copo no chão. Gritei de dor a plenos pulmões, mas não havia voz para deixar a garganta. Tentei desesperadamente me mover, fazer qualquer coisa, mas meu corpo já morrera há muito. Agora a alma também partira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Demorou alguns dias até que eu morresse. Acho que mais do que deveria demorar, considerando meu estado de saúde precário. Foi o meu castigo por ter feito tantas coisas horríveis: morrer vagarosamente assistindo a água gélida correr da torneira, encharcando minha amada e levando o filete de seu sangue a meus pés.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Sempre gostei de pensar que a morte não seria o fim, mas sim um novo princípio. Mas quando morri não vi nada. Nenhum recomeço; nenhum inferno; nenhum paraíso; nem mesmo aqueles grandes olhos azuis que perseguiram durante tanto tempo: somente escuridão. </p>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-39921676054754735302011-03-20T20:13:00.000-07:002011-03-20T20:33:15.732-07:00Selo de Qualidade "Caderneta Azul"<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_cuiQ7oJ8zaF5BEVFevOFPNSeSBt32PpKBv7hksQWkEpth5wKEl4aBVKdrcV7ofKuWiS9XTPNWo_7R0EFSXHYlmCRHag-430LSP-2kYiCOAQpFPai7GDZ_I8-KTnC2zeUU2txmIf_gFQ/s1600/selo.png"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 149px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_cuiQ7oJ8zaF5BEVFevOFPNSeSBt32PpKBv7hksQWkEpth5wKEl4aBVKdrcV7ofKuWiS9XTPNWo_7R0EFSXHYlmCRHag-430LSP-2kYiCOAQpFPai7GDZ_I8-KTnC2zeUU2txmIf_gFQ/s400/selo.png" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5586366648310186882" /></a><br /><div>Ganhei o selo de qualidade do Blog Caderneta Azul, por indicação do amigo Raylson Bruno. A idéia do selo é, quem recebê-lo, responder algumas perguntas e indicar outros blogs que ache que mereçam ganhar o selo.</div><div>Aqui vai as perguntas:</div><div><br /></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Nome: <b>Gustavo Pierobom</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Uma música: <b>Recuerdos da 28, do Joca Martins (Música tradicionalista Gaúcha)</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Humor: <b>Depende do momento.</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Uma cor: <strong>Preto</strong></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Estação:<strong> Inverno</strong></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Como prefere viajar:<b> De carro</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Um lugar: <b>Minha casa</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Um filme: <b>Os Imperdoáveis</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Um livro: <b>A sombra do Vento do Carlos Ruiz Zafón (mas poderia citar outros)</b></span></em><br /><em><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;">Um prazer: </span></span><b><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;">Ler, escrever, pescar, jogar bola, conversar, sexo, um bom filme (não necessariamente nesta ordem) </span></span></b></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Um seriado: <b>House</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Time do coração: <b>GRÊMIO!</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Frase mais dita por você: <b>Porra, mas tu é chato(a)!</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Porque tem um blog: <b>Para divulgar meus escritos.</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Sobre o que você escreve: <b>De tudo um pouco, desde crônicas humorísticas, contos de suspense, drama, detetive, faroeste, etc. Pretendo escrever um romance sobre a Revolução Farroupilha.</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">Escreva a primeira coisa que vier a cabeça: <b>Sei lá.</b></span></em><br /><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; ">O que achou do selo: <b>Legal, a iniciativa foi boa. O Caderneta Azul está de parabéns.</b></span></em><br /></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><b><br /></b></span></em></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 16px; color: rgb(0, 0, 0); font-style: normal; font-weight: normal; line-height: normal; ">Aqui vai os blogues que eu indico para receber o selo:</span></b></span></em></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 16px; color: rgb(0, 0, 0); font-style: normal; font-weight: normal; line-height: normal; "><br /></span></b></span></em></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 16px; color: rgb(0, 0, 0); font-style: normal; font-weight: normal; line-height: normal; "><a href="http://estounumailhadeserta.blogspot.com/">http://estounumailhadeserta.blogspot.com/</a></span></b></span></em></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><b><a href="http://nossosautores.blogspot.com/">http://nossosautores.blogspot.com/</a></b></span></em></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><a href="http://piratasdegravata.blogspot.com/">http://piratasdegravata.blogspot.com/</a></span></em></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><a href="http://textostexturas.blogspot.com/">http://textostexturas.blogspot.com/</a></em></div><div><br /></div><div>Se não fosse injusto eu indicaria meus outros blogues, hêhê.</div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><b><br /></b></span></em></div><div><em style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); font-size: 13px; line-height: 18px; "><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; "><b><br /></b></span></em></div><div><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px; "><b><i><br /></i></b></span></span></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-84793721711764609292011-03-19T20:55:00.000-07:002011-03-19T20:57:17.428-07:00Obama e o Velho Surdo<p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">A filha solteirona foi até a sala, onde seu velho e surdo pai assistia a um filme com a televisão a todo volume.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Papai! — berrou. — Estou aqui no quarto usando a internet, vou acompanhar a visita do Obama.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— A camionete do IBAMA? — alarmou-se o velho. — Meu Deus! Vou esconder meus canarinhos!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Não pai, o “Ôbama”, presidente dos Estados Unidos. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Ah bom. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center;text-indent:35.45pt">———————//——————</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">“Que a luz do progresso sempre brilhe nesta nação” disse o presidente dos Estados Unidos, citando Juscelino Kubitscheck, ex-presidente brasileiro e idealizador da nossa capital federal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Que a luz do progresso “do meu país” sempre brilhe nesta nação, Obama poderia ter acrescentado à citação de JK que certamente um de seus assessores procurou no Google para que seu presidente parecesse simpático ao relembrá-la na presença da Dilma. Ora, que outro interesse teria o homem mais poderoso do mundo (ou não, pois há um certo chinesinho tomando conta do pedaço) numa visita ao Brasil se não, conseguir com que a balança do mercado internacional penda ainda mais para o lado americano?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Obama diz que vê no Brasil um mercado em crescimento que pode ser explorado pela indústria norte-americana e que propõe uma parceria “verde” entre os dois governos para gerar energia limpa e renovável. Bem, eu não sei o que ele quis dizer com “verde”, mas a Amazônia é verde, por exemplo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Os principais objetivos de Obama, em sua visita ao Brasil, são para reforçar a cooperação dos dois países nas questões de infraestrutura, de educação e de energia. O que interessa à Obama a educação brasileira? Algo do tipo: “Estudem e venham trabalhar no meu país”? A infraestrutura seria para quando os americanos viessem num futuro próximo se apossar — por bem ou por mal — dos nossos minerais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">“Muitos dizem que o Brasil é o país do futuro. Então o futuro chegou.” Quem são estes muitos? Eu pelo menos nunca ouvi ninguém citar isso. Num país de saúde e educação precárias, onde muitas crianças têm de enfrentar uma viagem de várias horas em plena madrugada para chegarem a tempo numa escola que não oferece o mínimo de condições para um aprendizado decente; Onde, em determinadas regiões que por vezes não possuem nem energia elétrica, parteiras trazem bebês à vida sobre uma mesa empoeirada de um engenho, enquanto, nas grandes cidades, a população de baixa renda acotovela-se em filas esperando por atendimento nos hospitais. Bem, se o Brasil é o país do futuro, então acho que o futuro não será muito promissor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">O Homem também comentou que o Brasil é uma das mais perfeitas democracias do mundo. Heim? Ele deve ter esquecido (ou não sabe, o coitado) que os políticos eleitos pelo povo metem a mão na cumbuca desviando dinheiro dos cofres públicos, e, mesmo quando são pegos com a mão na massa, ainda ocorrem incontáveis votações de outros sem-vergonhas para decidir se o gatuno será ou não afastado de seus poderes. Democracia? Concordo. Perfeita? Longe disso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">“Nós queremos ajudar de toda forma possível para que o Brasil possa realizar todo o seu potencial.” O Homem é realmente inteligente. É muito mais fácil iludir um país pacífico com promessas vãs tendo como objetivo final extrair suas riquezas do que gastar milhões por ano com guerras contra povos fanáticos (ou machos, depende do ponto de vista) correndo o risco de receber uma “aviãozada” num de seus cartões postais.<span style="mso-spacerun:yes"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Segundo Obama, o Brasil conseguiu provar que o capitalismo pode existir junto com uma preocupação com justiça social. Cadê a justiça social? Ou melhor, cadê a preocupação?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Talvez seja culpa do povo, como, por exemplo, o caso que aconteceu em Cuiabá há alguns dias, em que o governo ofereceu um curso de costureira a algumas mães de família e uma empresa privada ofereceu trabalho a elas. O objetivo era incentivar essas pessoas a trabalhar para que não dependessem mais de programas como o bolsa escola e o bolsa família, mas, terminado o curso, nenhuma delas apareceu no novo emprego para não perderem o privilégio dos auxílios governamentais. Afinal, para que trabalhar se posso receber parado? E quem paga por isso é a classe trabalhadora, que contribui com sua parte numa das mais altas taxas de impostos do mundo... Pelo menos vamos sediar a copa de 2014.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Se 1984, de George Orwell, fosse ambientado no Brasil, as teletelas só flagrariam determinados sujeitos em atos proibidos, pois seria implementado um filtro que desse liberdade a certos indivíduos esconderem grana na cueca por baixo dos panos. O protagonista poderia faltar ao seu trabalho no órgão público apresentando falsos atestados médicos. O ministério da guerra seria administrado pelos policiais militares que revendem as drogas apreendidas dos traficantes. As rações de chocolate e gim seriam distribuídas em doses desiguais, favorecendo a quem fosse de mais presteza ao governo. O sexo teria como único objetivo gerar crianças é claro, pois, como na obra de Orwell, o amor seria proibido, mas com uma óbvia exceção durante carnaval.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center;text-indent:35.45pt">—————— // —————</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span style="mso-spacerun:yes"> </span><span style="mso-spacerun:yes"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">A filha saiu do quarto e sentou-se ao lado do pai, em frente à televisão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Como foi? — perguntou o velho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Não sei. Achei seu discurso muito perspicaz, porém contraditório.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Heim? Ele só quer nossos recursos, nos passar pra trás e o petróleo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Mais ou menos isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Minha filha, seu pai é surdo, mas não é burro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span style="mso-spacerun:yes"> </span></p>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-2156016495173052052010-11-23T03:30:00.000-08:002010-11-23T03:32:42.140-08:00A Juventude e a Literatura<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif, Verdana; font-size: 14px; ">A juventude de hoje está mudada, para não dizer perdida. No meu tempo o melhor passatempo que se tinha era um bom jogo de bola no meio da rua ou, talvez, soltar pandorga quando o vento estivesse bom. Para não falar nos banhos de chuva, na caçada de vaga-lumes, e nas intermináveis tardes fazendo bolinhas de sabão com um pedaço de cano e um pouco de detergente. Hoje não se vê um guri com mais de oito anos sem estar com um celular no bolso e um MP3 pendurado no pescoço. Esses dias um amigo meu presenteou o filho com uma bola.<br /><br />— O que é isso? — perguntou o menino.<br />— Uma bola.<br />— Onde que liga?<br />— Não liga.<br />— Para que serve, então?<br />— Como, para que serve? É uma bola! Você chuta, faz embaixadinhas, quebra um vidro com ela...<br /><br />O menino agradeceu o presente e foi para o quarto jogar vídeo-game.<br /><br />No que concerne à literatura, é mais ou menos a mesma coisa que se passa. Os poucos adolescentes que vão contra as estatísticas e que ainda se interessam pela leitura, tendem a seguir a moda, lendo livros de qualidade duvidosa, graças à pesada propaganda imposta sobre eles. O pior de tudo é que alguns desses adolescentes se aventuram a iniciar uma carreira literária, tendo como base dois ou três desses “livros da moda”, e acabam por tornarem-se meros plagiadores das suas idéias medíocres. O resultado são textos de qualidade ainda inferior (se possível for) às suas fontes de inspiração.</span><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif, Verdana; font-size: 14px; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif, Verdana; font-size: 14px; ">Felizmente há exceções.<br /><br />* * *<br /><br />Era o dia anterior ao seu aniversário de doze anos e Marcolino pedira para sua mãe um livro de presente. O único que lera na sua curta existência fora Olhai os Lírios do Campo de Érico Veríssimo, livro este que furtara de um sebo. Claro que sua mãe não podia ficar sabendo do crime, mas isso não o impediu de passar noites intermináveis, à luz de uma lanterna, lendo e relendo aquelas deliciosas páginas. Daí o gosto pela literatura. Mas a verdade é que já estava farto de ler sempre a mesma coisa. Queria algo novo. Tinha fome de conhecimento. Mas tinha que ser algo diferente. Uma coisa nova. Mais emocionante. Então pedira para a mãe um terror ou um suspense.<br />Agora só aguardava a chegada da mãe com o presente. Seu aniversário seria no dia seguinte, mas o combinado fora que se ele arrumasse a casa, receberia o presente antecipadamente.<br /><br />Finalmente ela chegou.<br />Parou à porta e olhou ao redor. A casa brilhava mais que coturno de capitão. Ele cumprira sua parte no trato, agora era a vez dela.<br /><br />— Aqui seu livro.<br />— É sobre o que, mãe?<br />— Não sei direito. É um lançamento. Só sei que umas meninas estavam se estapeando pelos primeiros exemplares. Perguntei a respeito e uma delas me disse ser o melhor. É de vampiros ou algo do tipo.<br />Animado, Marcolino desembrulhou rapidamente a embalagem de presente e deparou-se com uma linda e reluzente capa negra gravada com letras vermelhas. Alisou-a, saboreando o relevo das letras e o perfume viciante das páginas. Esqueceu-se do mundo à sua volta e mergulhou na leitura.<br />Vinte páginas depois, descansou o livro sobre a mesinha da sala e foi em direção à porta.<br /><br />— Aonde você vai, Marcolino? — perguntou a mãe.<br />— Vou locar o DVD do Blade!</span></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-71041924788272034582010-07-15T05:46:00.000-07:002010-07-15T05:47:37.414-07:00Mau Presságio<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif, Verdana; font-size: 12px; ">Provavelmente o inevitável acontecimento que mais abomina a vida de um pai, é a apresentação do primeiro namorado da filha. Que pai gosta de ver sua preciosa garotinha — aquela que ele embalou, contou histórias, levou para tomar sorvete e revelou o grande segredo por trás do arco-íris — ser tocada pelas mãos sujas de um homem qualquer? Pois ele sabe o que se passa na cabeça de um adolescente que está na idade de fabricar espinhas encerrado no banheiro.<br />No começo é tudo ilusão: palavras de carinho, o velho e infalível truque de se espreguiçar no cinema para colocar o braço sobre o ombro da menina, os beijinhos comportados no portão e as ligações de horas no meio da noite (o que sempre causa inexplicáveis aumentos na conta telefônica). Mas depois a coisa começa a ficar pesada: aquela mão boba por baixo do sutiã, que vai baixando até a saia, por entre as coxas e, se passar daí, já era.<br />Pelo menos no tempo do seu Afrânio era assim. Hoje não é necessário mais do que duas ou três cervejas na balada para acabar num 69 no motel.<br /><br />* * *<br /><br />O seu Afrânio roia as unhas. Isso só de aperitivo para acompanhar o meio litro de uísque que já bebera. Faltavam poucos minutos para a filha chegar com o primeiro namoradinho em casa. Namoradinho... o facão já estava amolado e o revólver lubrificado para botar o marmanjo para correr caso não gostasse. E não gostaria.<br />Enfim chegaram. O garoto tinha quatorze anos, ela treze. Sentaram-se no sofá em frente ao seu Afrânio, com um espaço de 45cm de distância um do outro — fazer o que? Norma da casa — ambos muito envergonhados e comportados até demais.<br />Deu-se início a entrevista: Idade? Telefone? Endereço? Tipo sanguíneo? Como vai no colégio? O que pretende para o futuro? Quando vai ser o casamento? Ah, o seu pai foi militar? Marinha? Pena, servi no exército. Tem um cachorro? Qual o nome dele? E as figurinhas da copa, faltam muitas? Pra que time torce? E acha o Ganso melhor que o Ronaldinho? Fala sério.</span><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, sans-serif, Verdana; font-size: 12px; ">A todas as perguntas, por mais assustador que o velho fosse, o garoto tinha uma resposta satisfatória na ponta da língua. A filha com certeza estava orgulhosa, pois tinha certeza que o namorado agradara e até mesmo surpreendera o pai.<br />No final da visita, despedidas feitas, apertos de mão trocados. A filha, serelepe e ansiosa, dirigiu-se ao pai:<br /><br />— E então, pai? O que achou dele?<br />— Não sei, filha, algo me diz que esse garoto não presta.<br />— Como assim, pai, por que acha isso?<br />— Sei lá, ele tem uma cara... Não quero mais ver você com esse garoto. Ponto final.<br />A filha desatou-se a chorar e, entre um soluço e outro, disse:<br />— Pô, achei que o senhor iria gostar. Ainda mais que ele sonha em ser jogador de futebol. Goleiro. E do seu time, o Flamengo!</span></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-79485022461331349932010-04-25T09:51:00.000-07:002010-04-25T09:54:25.109-07:00O Sonho<p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Sonhos são coisas curiosas.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">A mente costuma nos pregar peças, às vezes. Enfeitiçar-nos, confundir-nos, brincar conosco e plantar diversas armadilhas pelo caminho, como se fossemos ratos de laboratório num labirinto, tentando encontrar o caminho certo. Morder ou não o queijo eletrocutado no fim da linha é questão de pura interpretação. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Aconteceu com o Arnaldo.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Ele sonhara à noite. No sonho, como em todos os sonhos, tudo fora confuso. As coisas estavam completamente embaralhadas em sua cabeça quando acordou. Entre alguns fragmentos de lembranças do sonho estavam: o golaço do Mengão sobre o Vasco na final do campeonato; as preliminares da transa — porque num sonho nunca se chega a consumar o ato — com aquela gostosa do trabalho que nunca lhe dava bola; os quatro primeiros números da loteria acumulada; e a esposa o traindo com seu velho amigo Pedrão. Mas quem é esse Pedrão? Não se lembrava de ter nenhum amigo chamado Pedrão. Nem velho nem novo. Ele logo concluiu que a traição era outra confusão do seu intelecto e que, como a possível transa com a gostosa, não existia. Era irreal.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Mas mesmo assim ficou com a pulga atrás da orelha, matutando os acontecimentos do sonho. E o pior de tudo era que a esposa iria viajar naquela manhã. Ela ficaria uma semana no interior, visitando seus pais. Não. Havia algo errado. Eram demasiadas coincidências para o seu gosto: um sonho de traição, uma viajem de uma semana e um amante chamado Pedrão. Pedrão! Tinha que investigar melhor aquilo. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Deixou a esposa na cama, ainda dormindo, e foi para a cozinha tomar café e ler seu jornal. Tinha preparado a armadilha. Quando ela apareceu, usando um roupão e um cabelo amassado, ele arriscou:</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— O Pedrão acabou de ligar.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Que Pedrão? </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Não, não deu certo. Nenhuma reação suspeita, nenhum brilho no olhar. Nada. Apenas um bocejo e um desinteresse tão bem representado que se fosse fingimento ela mereceria um Oscar.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Bem, ela foi viajar. O Arnaldo tentou de todas as maneiras esquecer aquela bobagem, mas foi impossível. Não resistiu. Correu para o Google e encontrou uma firma de detetives particulares que funcionava na pequena cidade para onde a esposa fora. O anúncio dizia o seguinte:</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><i><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Detetives S/A — Especializada em descobrir relações extraconjugais. Absoluto sigilo e discrição. Sua desgraça é o nosso segredo.<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><i><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Perfeito. Discou o número e uma voz atendeu do outro lado da linha.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Pronto.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Alô, é da Detetives S/A?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Sim, Detetive Pedrão falando. Em que posso ajudá-lo?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Desligou o telefone e resolveu confiar na esposa. Afinal, foi só um sonho. </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"> </span></i></p>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-42918455533045413742010-04-14T09:42:00.000-07:002010-11-09T06:47:35.660-08:00O Intervalo Para o Cigarro<p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Não há coisa melhor do que fumar um cigarro no intervalo do trabalho. Quero dizer, há, mas no momento estou sem namorada e sem dinheiro para pagar por uma. Sabe como é, tem a prestação do carro. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">O grande problema é que o patrão, seu Lindomar, quer nos privar desta dádiva que é uma das poucas vantagens que se têm por trabalhar na firma. Além disso, a única outra vantagem é o futebolzinho na sexta feira dos casados contra os solteiros.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt;tab-stops: 96.75pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Fui chamado à sala do patrão para discutir o assunto.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Seu Lindomar está achando que a fase difícil que a firma atravessa deve-se ao nosso precioso intervalo para o cigarrinho. Tentei explicar a ele que situação não tão boa da firma deve-se aos IPI, IR, IPTU, IRRF, ICMS e tantos outros Is que insistiam </span><st1:personname productid="em subir. Ele" st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">em subir. Ele</span></st1:personname><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> rebateu dizendo que o único I que subia era a saia da Irislene, sua secretária, que era tamanho I de Insignificante. Com aquilo ele quis dizer que o intervalo para o cigarro havia acabado e ponto final. E o pior: fui o incumbido de transmitir a mensagem aos meus colegas.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Saí da sala do patrão cabisbaixo. Parei diante da porta, onde todos da repartição direcionaram olhares esperançosos em minha direção. Fiz o gesto universal do cigarro, levando o dedo médio e o indicador aos lábios, e em seguida bati com palma aberta de uma das mãos sobre a outra mão fechada, o gesto universal para o “estamos fodidos”. Todos se lamentaram silenciosamente, daquele jeito que se diz: “puta que o pariu” sem abrir a boca. Até mesmo o seu Aroldo, quarenta anos de firma, que havia largado o vício por causa de um câncer no pulmão protestou em forma de uma tossidela violenta.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Passamos aquela semana desolados. Não conseguíamos nos concentrar no trabalho. O pessoal da contabilidade errava o dois mais dois, o do marketing queria trocar a propaganda do intervalo na novela das oito na globo pelo intervalo dos desenhos animados do SBT, e até mesmo a Marcinha, que cuidava do cafezinho, estava trocando o açúcar pelo sal. Não, não podíamos continuar assim, se não só restaria o caos. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Na noite de sexta resolvemos cancelar o futebol e realizar uma reunião. Todos concordaram. Iríamos entrar </span><st1:personname productid="em greve. Enquanto" st="on"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">em greve. Enquanto</span></st1:personname><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> não nos devolvessem o direito de intervalo para o cigarro, não trabalharíamos. Até mesmo o seu Aroldo, entre uma tossida e outra, prometeu ser o primeiro a empunhar uma placa em prol da nossa causa, coitado.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Na segunda feira o seu Lindomar se assustou quando nos viu invadir seu escritório, munidos de placas e protestos, exigindo nossos direitos. Confesso que senti até pena do homem, pois lia-se em seus olhos que estava a fazer as contas: indenizações, treinamento de novo pessoal. Não, não. Teria de se render. Seu Lindomar fez um gesto para que fizéssemos silêncio, e subiu na sua mesa para iniciar o discurso.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Está bem, está bem, vocês venceram. Devolvo o direito do intervalo para o cigarro, mas como uma condição: parem de pegar os cigarros do depósito se não a Cigarros Lindomar LTDA vai à falência. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Todos tatearam os bolsos à procura de moedas e correram à tabacaria da esquina. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></p>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-60072762401929285562009-12-03T09:23:00.000-08:002011-07-15T07:36:33.955-07:00Algo em Comum<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: x-small; line-height: 20px;">TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.</span></div><div class="MsoNormal" style="tab-stops: 264.75pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-5462154923466480292009-11-06T15:12:00.000-08:002010-11-10T05:17:12.698-08:00Final Feliz<span class="Apple-style-span" style=" color: rgb(51, 51, 51); line-height: 20px; font-size:13px;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(41, 48, 59); line-height: 20px; font-size:13px;">© 2009, by Gustavo Pierobom</span></span><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: left;text-indent: 35.45pt; "><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Ele estava sentado no sofá da sala tendo como companhia uma garrafa quase vazia de uísque e suas recordações. Ainda podia vê-la: com seus olhos azuis e cachinhos dourados arrastando a boneca esfarrapada pelo carpete. “Papai, você vai me levar ao parque hoje?” Mas ele não podia. Sempre tão ocupado com seus malditos livros. Se pudesse prever o futuro nunca teria escrito o primeiro romance, preferia ter ficado o resto da vida lecionando literatura na escola pública, ganhando aquela miséria. Não haveria nenhum luxo e nem carros do ano, mas... Pro inferno! Pelo menos haveria tempo para levar a pequena Amanda ao parque, pelo menos ela ainda estaria ali com ele. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Uma lágrima percorreu seu rosto parando em seus lábios, ele sentiu o gosto amargo da dor e o dissolveu com outra dose de uísque. Adormeceu...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">A pequena Amanda sentia-se entediada da maneira mais pura que uma criança de cinco anos poderia sentir-se. Ela não queria mais ficar em seu quarto lotado de tantos brinquedos que já tinham perdido a graça. Queria mesmo brincar com o papai no parque. Olhar os patinhos nadando no chafariz enquanto tomava sorvete, andar de balanço ou descer correndo pelo escorregador. A tia Janice sempre a levava, mas ela não estava ali agora. “Por que ela não vem brincar comigo aos domingos?” Mas, mesmo assim, não era a mesma coisa. Com o papai era mais legal. Ele a carregava nos ombros e fazia aquele barulho de cavalinho. Mas fazia tanto tempo que ele não ia com ela. Agora ele só ficava sentado na frente do computador. Nunca tinha tempo. “Será que ele não gosta mais de mim? Por que a mamãe teve que ir para o céu? Se eu tivesse mãe talvez ela pudesse me levar no parque”</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">A criança abandonou sua boneca no chão do quarto e correu para a sala. Definitivamente iria convencer o pai a levá-la para passear. </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— Papai! Papai! Vamos ao parque? Só um pouquinho?</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— O papai tem que trabalhar, querida — respondeu sem ao menos tirar os olhos da tela do computador.</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— Mas você nunca me leva — choramingou a criança.</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— Não se preocupe, amanhã a tia Janice leva você. Deixe-me trabalhar. Depois vamos pedir uma pizza. Que tal?</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Amanda voltou cabisbaixa ao quarto, mas enquanto choramingava teve uma grande idéia. Iria só, ao parque. Iria sim. Ela sabia onde ficava, era só andar um pouco e atravessar aquela rua e pronto. Calçou as sandálias e pegou a velha boneca. “Agora só falta pedir ao papai.” Voltou até a sala.</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— Papai, posso ir sozinha ao parque? — perguntou a menina numa voz tão baixa, pois sabia que provavelmente a resposta seria não, que o pai não escutou. — Posso? — repetiu, agora em voz alta. </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— Pode, pode. — disse o pai impaciente, sem desviar os olhos do trabalho. </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— Oba! — e com esse grito de euforia ela partiu rumo à sua aventura.</span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"> </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Em poucos minutos a garotinha já tinha percorrido boa parte do caminho, pois ia correndo pela rua, como sempre fazia com a babá. Mas espere. Agora teria que atravessar a rua, e sabia que era perigoso. Olhou para o sinal que a tia Janice sempre mostrava. “Qual era mesmo a hora de atravessar? Vermelho ou verde?” </span></i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><i><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"> </span></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">O homem foi despertado pelo toque do telefone. Só podia ser o maldito editor perguntando pelo andamento do livro.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"> </span></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">— Alô? Sim... Sim... Sim, está pronto... Não, não vou sair de casa. Mande alguém vir buscar amanhã... Está bem... Até mais.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Após desligar o telefone ele olhou para o maço de folhas sobre a mesa de centro. Na capa lia-se: “Final Feliz”. Seu segundo romance, este que havia sido inspirado pela morte da sua amada esposa no parto, e de como um pai e uma filha poderiam viver felizes com a ausência materna. Ao lado do maço de folhas via-se um recorte de jornal de uns meses atrás: “Criança de cinco anos morre atropelada na Rua Carvalho Souza.” Só que este não era o final que ele planejara. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Pegou seu revólver que estava sobre a mesa da cozinha havia semanas, encostou o cano da arma na testa e puxou o gatilho.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent:35.45pt"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Uma bala no crânio... O único final feliz que aquele homem poderia ter. </span></p>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-59858244336911538202009-10-20T11:00:00.000-07:002009-10-20T11:53:16.121-07:00Perereca Enlatada<span class="Apple-style-span" style=" ;font-family:Verdana, Arial, sans-serif;font-size:14px;">Certa vez, em Florianópolis, o Sr. Teixeira, carioca de nascimento, chegava em casa após mais um longo e cansativo dia de trabalho. Um dia daqueles em que só um bom jantar e o jogo do Mengão o fariam esquecer. Pois bem, a sua senhora, a dona Roberta, por incrível que pareça, pois o casamento não ia lá essas coisas, preparou uma refeição daquelas, com tudo o que tinha direito. Depois do jantar, satisfeito, o Sr. Teixeira jogou-se no sofá para assistir ao Fla-Flu, e, imediatamente, a esposa lhe trouxe uma cerveja geladinha, acompanhada de uma tigela de pêssegos em calda. Ao mesmo tempo em que Teixeira levou o primeiro pedaço do doce à boca, o Mengão fez um gol, mas um gol daqueles de saltar da cadeira: o ponta de lança entrou pela direita passando por dois e meteu uma canhota de fora da área, no anglo. Poderia o Sr. Teixeira querer algo melhor? Não, acho que não. Mas, como todo bom brasileiro, sabemos que alegria de pobre dura pouco. No caso do Sr. Teixeira não seria diferente.<br />O Mengão tomou dois gols em menos de cinco minutos, e o Sr. Teixeira, supersticioso como era, lembrou-se que o seu time tinha feito o primeiro gol no mesmo momento em que ele levava o pêssego à boca. Gritou pela esposa, mas esta não respondeu. Então ele correu para a geladeira servir-se de uma segunda porção de sobremesa. Abriu a lata do doce, mas, para sua surpresa, havia uma perereca boiando junto aos pêssegos. Perereca? Sim, perereca, destas que de vez em quando encontramos no canto do banheiro. Imediatamente ele berrou o nome da sua companheira:</span><div><span class="Apple-style-span" style="font-family:Verdana, Arial, sans-serif;font-size:130%;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:14px;">— Roberta!<br />— O que é amor, o que é? — respondeu ela aparecendo na porta da cozinha.<br />— O que essa perereca está fazendo dentro da lata de pêssegos?<br />— Ai que nojo! Não sei, eu apenas abri a lata, servi para você e guardei-a na geladeira. Eu não tinha visto esse bicho aí dentro. Ainda bem que não comi.<br /><br />Óbvio que o Sr, Teixeira desistiu de comer mais uma pedaço de pêssego, e foi por isso, segundo ele, que o Mengão perdeu de 5x1. No dia seguinte ele, furioso — mais pelo Mengão ter perdido para o Flu do que por ter comido pêssego com perereca —, fez uma denuncia à vigilância sanitária, explicando o ocorrido. Ao chegar ao trabalho naquele dia, fez a besteira de contar para os amigos o que acontecera na noite anterior. E nós sabemos que a segunda pior coisa no mundo é ter que aturar amigo chato debochando dessas coisas, a primeira é o seu time perder para o rival na final do campeonato.<br /><br />— Aí Teixeira, sua senhora botou a perereca na conserva, foi? — disse o Silva.<br />Risadas.<br />— Ei Teixeira, é verdade que sua mulher anda oferecendo perereca com pêssego pelo bairro? — arriscou o Santos.<br />Risadas.<br />— Ela cobra pelo pêssego ou vem de brinde com a perereca? — completou o Portela.<br />Risadas.<br /><br />E assim foi o dia todo. Bom, já não bastava por tudo o que o Sr. Teixeira estava passando, aconteceu que, alguns dias depois, o caso caiu na mídia e teve grande repercussão. Então toda vez que o Teixeira andava pela rua, sempre tinha um engraçadinho que perguntava pela perereca da sua mulher. Para resumir, já não agüentando mais aquela situação constrangedora, ele acabou com o casamento e voltou a morar com a mãe.<br />Agora eu só me pergunto se no dia em que acharem um pêssego dentro duma lata de pererecas, irão sair por aí reclamando?</span></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family:Verdana, Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;"><br /></span></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family:Verdana, Arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;">LINK DA NOTÍCIA: </span></span></div><span class="Apple-style-span" style=" font-weight: bold; font-family:Verdana, Arial, sans-serif;font-size:12px;"><a href="javascript:void(0);" target="_blank" onclick="_linkInterstitial('http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,M\74wbr\76UL841894-5598,00-CONSUMIDOR+ENCONTRA+BIC\74wbr\76HO+EM+LATA+DE+PESSEGO+EM+CALDA+EM+SC.htm\74wbr\76l'); return false;" style="color: rgb(2, 103, 156); text-decoration: none; ">http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,M<wbr>UL841894-5598,00-CONSUMIDOR+ENCONTRA+BIC<wbr>HO+EM+LATA+DE+PESSEGO+EM+CALDA+EM+SC.htm<wbr>l</a></span>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-12575618733514881962009-09-21T11:47:00.000-07:002011-07-15T07:31:09.230-07:00Lugar Certo, Hora Incerta<span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: x-small; line-height: 20px;">TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.</span><br />
<div></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-61718943627160666842009-09-18T11:04:00.001-07:002011-07-15T07:39:21.746-07:00Quando os Homens São Homens<div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br />
</span></div><div><div><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; line-height: 20px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">© 2009, by Gustavo Pierobom</span></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: -webkit-xxx-large; line-height: 20px;"><br />
</span></span></div></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVlWoL60pR3PwrLu6Cvkwmzf975SaM-vGHC4uo45daE4suzPZhhauM1XBtseLQmiTXMJ9Lq_N2FiwG2241XiI_jMF3t8xU-qNT_xp53hGnma97Ojgx7IhlsjFYyTkVKbgSccGTxDEAs1I/s1600-h/cinema7.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5382870730407792322" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVlWoL60pR3PwrLu6Cvkwmzf975SaM-vGHC4uo45daE4suzPZhhauM1XBtseLQmiTXMJ9Lq_N2FiwG2241XiI_jMF3t8xU-qNT_xp53hGnma97Ojgx7IhlsjFYyTkVKbgSccGTxDEAs1I/s400/cinema7.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; display: block; height: 226px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 350px;" /></a><br />
<div><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 20px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></span></span></div><div style="text-align: center;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span class="apple-style-span"><span style="color: black; font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">"Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida." </span></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span class="apple-style-span"><span style="color: black; font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">(Blaise Pascal)</span></span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br />
</span></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"></span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">6 de junho de 1944, Praia Omaha, França.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Dezenas de soldados estavam amontoados a bordo do LCPV. Além de seus companheiros e das laterais cinzentas do barco, os homens nada podiam ver, pois haviam recebido instruções para ficarem de cabeças baixas. Mas misturados aos ruídos das ondas, os constantes sons das MGs42 e das explosões dos morteiros, revelavam que uma violenta batalha os esperava alguns quilômetros à frente.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Como viemos para aqui, heim John?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">John sorriu.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Você se arrepende?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Não — respondeu Eric, balançando a cabeça. E você?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Enquanto refletia sobre a resposta, John olhava para um soldado que vomitava ao seu lado. Outro tentava inutilmente acender um cigarro molhado. John começou então a observar os homens ao seu redor. Alguns choravam discretamente, outros como bebês. Um, mais à direita, orava de olhos cerrados agarrado a seu crucifixo. Mais à frente o Sargento Black contemplava, nostálgico, uma surrada fotografia de sua família. John ficou se perguntando se Black tornaria a ver a família. Se ele próprio voltaria a ver a dele. Quase todos os demais tripulantes usavam seus capacetes para tirar a água que se acumulava no interior do barco. Estavam todos gelados e molhados até os ossos, mas, pior do que isso, era o temor e a incerteza se voltariam vivos para casa. John percebeu então que não sabia a resposta para a pergunta do amigo. Daqui a pouco provavelmente estaria morto, mas tentaria matar o maior número possível de nazistas. Ele era judeu, e há várias noites era atormentado pelo mesmo pesadelo, onde seus pais e sua irmã caçula estavam ajoelhados e amarrados nus numa sala escura, e Adolf Hitler assassinava um a um com um tiro na cabeça, enquanto ele estava parado ao lado de fuzil em punho, tentando puxar o gatilho, mas seu dedo não respondia.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— QUARENTA SEGUNDOS PARA O DESMBARQUE! — gritou o comandante da embarcação. — DESOCUPEM A RAMPA!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Os soldados que encontravam-se na parte frontal da embarcação recuaram aglomerando-se com os outros. Todos pegavam suas armas e quilos e mais quilos de equipamentos. O Capitão Goodrick gritou suas últimas instruções:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— EVITEM OS BURACOS DOS MORTEIROS! TOMEM CUIDADO PARA A AREIA NÃO EMPERRAR AS ARMAS! MOVIMENTE-SE RÁPIDO E SEPARADAMENTE, LEMBREM-SE: UM GRUPO DE CINCO HOMENS É UM PRATO CHEIO, UM ÚNICO HOMEM É DESPERDÍCIO DE MUNIÇÃO! RAPAZES, VÃO COM DEUS. NOS VEMOS NA PRAIA!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">John e Erick trocaram um olhar de entendimento, era como se dissessem um ao outro: “Sairemos dessa juntos.”</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">A pesada tampa frontal da embarcação arriou, e quase ao mesmo tempo em que tocou a água, os oito primeiros soldados tombaram, estilhaçados pelos enormes projéteis das MGs42 que eram disparados pelos alemães de dentro do bunker duzentos metros praia à cima. Os homens, apavorados, tentando de toda forma descer do barco, seguiam sendo feitos em pedaços como se fossem folhas de papel.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— DEÇAM PELOS LADOS! — gritou o Capitão Goodrick dois segundos antes duma bala explodir em seu tórax.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Imediatamente os soldados jogaram-se na água pelas laterais da embarcação. Eric foi para o fundo, arrastado pelo peso de seu equipamento. No silencio subaquático, enquanto tentava desesperadamente livrar-se do seu equipamento, ele via as balas cortarem a água atingindo seus companheiros. Tateando no escuro ele, finalmente, conseguiu encontrar a baioneta do seu fuzil. Utilizou-se dela para cortar a corda que prendia o equipamento, e, livrando-se do peso, conseguiu subir à tona. Tornou a ouvir a horrível trilha sonora da guerra: homens berrando de dor ou desespero, morteiros explodindo aqui e ali, e a incansável bateria de disparos das metralhadoras. Nadou com dificuldade até a praia. Tocando a areia, correu em direção a um dos grandes arcos de ferro instalados pelos alemães com objetivo de evitar que os tanques e veículos inimigos penetrassem na encosta. Dentre as dezenas de soldados que eram atingidos a toda hora, um que corria a seu lado, fora acertado no joelho. Eric o agarrou pela gola da farda e o arrastou consigo. Após andar alguns metros uma ensurdecedora explosão dum morteiro ao seu lado fez com que uma grande camada de areia se erguesse do chão e depois caísse em forma de chuva. Ele notou que o peso que carregava diminuíra, olhou então para trás e notou que estava carregando apenas meio homem, este havia sido partido em dois pela explosão anterior. Soltou-o ali mesmo e, alguns metros adiante, conseguiu finalmente alcançar o improvisado abrigo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">John estava chegando à praia, viu dezenas de homens mortos à sua volta. O sangue havia tingido de vermelho o mar, que agora parecia um pequeno poço onde Deus lavava um corte profundo. Desprovido de armas e equipamentos, John correu em direção a um dos arcos de ferro. Após andar por poucos metros, sentiu um violento impacto no ombro direito e sua visão girar 180 graus pouco antes de bater de costas no chão e ficar olhando para o cinza escuro do céu. O projétil havia lhe partido a clavícula. Suportando a dor como pôde, arrastou-se por doze metros até ficar protegido atrás dum dos arcos de ferro. Esgotado e começando a sentir tonturas devido à perda de sangue, ficou imóvel, deitado na areia enquanto observava um homem dois metros a seu lado, tentar recolocar no corpo suas tripas enquanto berrava feito um bebê, chamando por sua mãe. Pouco a pouco tudo começou a ficar escuro para John, aquele barulho horrível foi diminuindo vagarosamente até que ele perdesse os sentidos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Eric havia conseguido avançar mais um pouco. Estava quase chegando ao banco de areia onde estava o arame farpado que cercava o campo minado em torno do bunker alemão, quando viu o Sargento Black, que já se encontrava lá com mais alguns homens, gritar para que alguém trouxesse os bangalores. Eric arrastou-se alguns metros até que chegasse perto o suficiente para que o Sargento o ouvisse.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">—SARGENTO! — gritou. — SARGENTO BLACK!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— O QUE É MILLER?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— EU VOU ENCOTRAR OS TUBOS BANGALORES! ESPERE UM MINUTO!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— OK, MILLER. MAS ANDE RÁPIDO COM ISSO!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Eric Miller arrastou-se por dezenas de metros em meio aos corpos dos seus companheiros mortos. Perguntando aqui e ali para os que ainda estavam vivos, pouco depois, conseguiu encontrar, dentro de uma cratera aberta por um morteiro, um soldado do batalhão de engenharia. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— VENHA COMIGO, PRECISAMOS ABRIR UMA BRECHA PARA CONTORNAR O BUNKER. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— VÁ SE DANAR! DAQUI EU NÃO SAIO!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— ENTÃO ME DÊ SEU EQUIPAMENTO.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Sem responder o homem o entregou a pesada mochila. Eric abriu-a e retirou os tubos explosivos que estavam enrolados num pedaço de lona verde. Novamente arrastando-se, voltou até onde estava o Sargento Black.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— PORRA MILLER! ACHEI QUE NÃO VOLTARIA MAIS! TROUXE OS TUBOS?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Eric alcançou os tubos explosivos para os outros que, em seguida, montaram-nos e os posicionaram por baixo da cerca. Quando acenderam o estopim, alguém gritou:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— FOGO NO BURACO!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">O aviso foi repetido por alguns homens. Todos se abaixaram protegendo as cabeças. A explosão elevou uma densa camada de terra e fumaça, a cerca havia se partido e a brecha para eles entrarem estava feita. Eric acompanhou os quatorze homens liderados pelo Sargento Black através dos pequenos bancos de areia sob uma chuva de balas. Dois homens foram atingidos antes que o grupo chegasse até a parede frontal do Bunker. Vinte metros acima deles, pela abertura do Bunker (que também era chamado de “ninho”, as três metralhadoras Mgs42 continuavam a massacrar seus companheiros que ainda desembarcavam. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Precisamos agir rápido, rapazes — disse, sem precisar gritar, o Sargento Black. — Eles estão acabando conosco. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Para contornar o Bunker e entrar pela parte de trás, eles precisavam passar na linha de fogo de duas MGs42 e um morteiro que estavam armados no alto de um morro a cinqüenta metros deles.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Ok, ok, é o seguinte: Estão vendo aquela cratera ali adiante? — perguntou Black, apontando um enorme buraco causado por uma bomba. Alguém correrá até lá como chamariz. Quando os disparos começarem, quatro de nós irão atirar nos desgraçados. O’Rourque, Tomason, Briggs, vocês três comigo. Quem irá de isca?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Eu senhor — ofereceu-se, Eric.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Ok Miller. Quando eu disser... Está pronto? AGORA!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Eric saiu correndo o máximo que pôde. Imediatamente uma chuva de balas caiu sobre si. Eram doze metros até a cratera, mas, para ele, pareceram doze quilômetros. O Sargento e os outros saíram à descoberto e investiram seus tiros contra os inimigos. Eric chegou à cratera e jogou-se como que fosse mergulhar em uma piscina. As balas dos soldados atingiram os homens no alto da colina. Tudo acabou bem.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">O pequeno grupo contornou o bunker passando por algumas trincheiras e abatendo alguns soldados nazistas pelo caminho. Quando chegaram até a entrada do “ninho”, um soldado armado de um lança chamas. Disparou o jato de líquido em combustão para dentro do bunker. Imediatamente sete nazistas, berrando horrorizados e em chamas, saíram voando pela fresta frontal do Bunker, e perderam a vida de encontro ao chão, devido à queda de vinte metros de altura.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Começaram a chegar cada vez mais soldados por ali. O Sargento Black chamou o comando pelo rádio, avisando que aquele setor estava liberado, e podiam chegar a Vierville por ali. Entre os que chegavam, Eric procurava reconhecer no rosto de algum deles, o do amigo John, mas, quanto mais homens chegavam, mais sua esperança diminuía. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Sargento Black, peço permissão para voltar à praia, senhor. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— O quê? Está louco Miller? </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— O John, senhor. Ele não está conosco.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Muitos não estão, filho... Muitos não estão.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Eu sei senhor, mas preciso encontrá-lo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Não, Miller. Já perdemos homens demais por hoje. É uma ordem!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Inconformado, Eric foi mesmo assim. Precisava encontrar o amigo. Vivo ou morto, não importava. Apenas precisava encontrá-lo. Voltou à praia onde o combate ainda permanecia, embora em menor proporção que antes. Homens ainda desembarcavam sob fogo cerrado, mais a leste. A quantidade de corpos na praia era horrivelmente gigantesca. Eric surpreendeu-se observando um soldado com o braço direito arrancado que, fora de si, procurava seu membro perdido em meio aos cadáveres no chão. Eric temeu então que o amigo tenha tido sorte semelhante. Mas não importava, era seu dever encontrá-lo. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">O Sargento Black estava sentado, fumando, com mais alguns homens à beira de uma trincheira, quando percebeu o médico, que enfaixava o ferimento de um soldado a três metros dali, exclamar: “Jesus!”, e sair correndo. Black voltou-se para olhar para onde o médico corria. O soldado Eric Miller chegava mortalmente ferido, carregando o cadáver do seu companheiro John às costas. Só então quando chegou próximo ao grupo que Eric, exausto e à beira da morte, tombou junto com o corpo do companheiro. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">O Sargento Black aproximou-se de Eric e o tomou nos braços.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— O que você fez garoto? De que adiantou? Agora perdemos você também. E por quê? Por causa de um homem que estava morto?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Eric, com um abatido sorriso nos lábios e com a voz fraca e trêmula, proferiu suas últimas palavras:</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">— Sargento, sabe o que John me disse quando o encontrei pouco antes de morrer? Ele disse: “Eu sabia que você viria.”</span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></div></div><div><br />
</div><div><br />
</div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRL94mbhvVXrKo_5XWtYWaVDkh3xoZvnJOT0N6Ph7CYiIHbmGpnDy3KpLFYS_GS36wp-h3EvatwvfbCXZ4ity1CDIDJyk3NXKGdm63qMU7P7SbjJEBkwbVvInwN_BjgJwTmbYG0EunnJk/s1600-h/cinema7.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" style="text-decoration: none;"> </a><br />
<div style="text-align: center;"><br />
</div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-15826535388759583662009-08-11T20:25:00.000-07:002011-07-15T07:29:03.465-07:00Beleza Interior<span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: x-small;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 20px;">TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA. </span></span><br />
<div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: 100%;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 20px;"><o:p> </o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: 100%;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 20px;"><o:p> </o:p></span></span></div></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-28203176714921976862009-06-09T11:58:00.000-07:002009-10-01T09:58:08.463-07:00Irresponsabilidade<span class="Apple-style-span" style="color: rgb(41, 48, 59); line-height: 20px; font-size:13px;">© 2009, by Gustavo Pierobom</span><div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(41, 48, 59); line-height: 20px;font-size:13px;"><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(41, 48, 59); line-height: 20px;font-size:13px;"><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(41, 48, 59); line-height: 20px;font-size:13px;"><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(41, 48, 59); line-height: 20px;font-size:13px;"><p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Quantos dedos têm aqui?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Sua visão estava embaçada, tudo girava ao seu redor. Não compreendia bem aquela figura à sua frente, lhe mostrando a mão. O que ele disse mesmo? Estava confuso. Começou a ficar escuro, alguém lhe apertava o peito. O que estava acontecendo? Ainda há pouco estava no parque, brincando com seu filho e... E o que mesmo? Por que estava zonzo? Não havia bebido. Será que o café fez mal? <span style="mso-spacerun:yes"> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Ponham-no na maca. Vamos levá-lo para o hospital. Depressa!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">O que ele disse desta vez? Quem o estava carregando? Onde estava o filho? O que diabo estava acontecendo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Acordou-se com uma sensação de náuseas, sempre a sentira com aquele cheiro de farmácia. Ao ouvir o som constante de um “bip” e notar que estava usando uma máscara de oxigênio, logo entendeu que estava no hospital. Olhou para o lado e viu sua esposa com aparência triste e cansada, dormindo sentada em uma cadeira ao lado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">Uma enfermeira surgiu em sua frente com um sorriso pouco encorajador no rosto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Finalmente acordou... Está se sentindo bem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Onde está meu filho?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Procure não pensar nisso agora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— O que? O que aconteceu? Eu estava com meu filho no parque e de repente tudo ficou confuso. Meu filho está bem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Senhor... Procure descansar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Mas me diga... O que aconteceu? Eu bebi alguma coisa? O café me fez mal?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Não senhor... Quem bebeu foi o motorista que os atropelou. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Atropelou? E meu filho?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.45pt">— Descanse senhor. Não se preocupe com isso agora.</p> <span style="font-family:"Times New Roman";mso-fareast-Times New Roman";mso-ansi-language:PT-BR;mso-fareast-language:PT-BR; mso-bidi-language:AR-SAfont-family:";font-size:12.0pt;"><span style="mso-spacerun:yes"> </span></span><br /></span></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-68992874740526302422009-06-03T10:43:00.001-07:002011-07-15T07:32:11.406-07:00Recordações<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: x-small; line-height: 20px;">TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.</span></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-30033451898902311122009-05-24T20:22:00.000-07:002011-07-15T07:40:11.819-07:00Vida Ingrata<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: x-small; line-height: 20px;">TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"><o:p> </o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;"> </div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-19071933024384406082009-05-14T14:36:00.000-07:002009-05-24T20:37:05.050-07:00Alfabeto do sucesso ao fracasso.<p class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(41, 48, 59); font-size: 13px; line-height: 20px; ">© 2009, by Gustavo Pierobom</span></p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal">Antigo anônimo andando assustado.</p> <p class="MsoNormal">Belo brilhante buscando bravuras.</p> <p class="MsoNormal">Conseguiu celestes cenários, chorando clemências.</p> <p class="MsoNormal">Desiludido desertou durante demência.</p> <p class="MsoNormal">Estado espiritual, excessos e essências.</p> <p class="MsoNormal">Foi forte, foi fraco, forjou-se falência.</p> <p class="MsoNormal">Grandioso guerreiro, glorioso ganhou.</p> <p class="MsoNormal">Hábil homem, herdou honra, humilhou.</p> <p class="MsoNormal">Incomparável, insistiu inquieto, impressionou.</p> <p class="MsoNormal">Jeito justo, júbilo, jamais jazerá, jurou.</p> <p class="MsoNormal">Lançou lúgubre longe, lutou.</p> <p class="MsoNormal">Melhorou mundo medíocre, mas manteve mágoas mortais.</p> <p class="MsoNormal">Narciso nato, nomeou notáveis negligências normais.</p> <p class="MsoNormal">Oportuno observou oitavado o odioso</p> <p class="MsoNormal">Proibido perdão. Por quê? Perfeita</p> <p class="MsoNormal">Questão. Querendo qualificar-se querido,</p> <p class="MsoNormal">Rebaixou-se ruindo receios, replicou requerendo razões. Recomeçou.</p> <p class="MsoNormal">Sobreviveu submisso. Sujeito sem sorte. Sangrou sentindo</p> <p class="MsoNormal">Terrível temor transcorrendo, talhando tremendo tormento.</p> <p class="MsoNormal">Uivando ultimatos, únicos</p> <p class="MsoNormal">Verbos viáveis. Virou vivente vagando vergonhoso, vertendo</p> <p class="MsoNormal">Xingamentos</p> <p class="MsoNormal">Zangados.<span style="mso-spacerun:yes"> </span></p>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-60816816254793579.post-85707838023127249982009-04-27T12:15:00.000-07:002011-07-15T07:33:22.122-07:00Conclusões Precipitadas<div><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: 13px;">© 2009, by Gustavo Pierobom</span></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcVrORv6plPoUgreRkm_j7BTWQjZLkcMqtDmJ0bo3GxOzBX2jZqMuG9aadj4l5QX3700zcR7Ax7bMy-bjdDH_I1V6l0-B7d0U69QGwdmWEcesrHDSzLRQf8FaC9sm9cseDvVlHSUoePok/s1600-h/conclu.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5329452303596390194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcVrORv6plPoUgreRkm_j7BTWQjZLkcMqtDmJ0bo3GxOzBX2jZqMuG9aadj4l5QX3700zcR7Ax7bMy-bjdDH_I1V6l0-B7d0U69QGwdmWEcesrHDSzLRQf8FaC9sm9cseDvVlHSUoePok/s400/conclu.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; display: block; height: 318px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 320px;" /></a><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: 13px;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.6em; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #29303b; font-size: x-small; line-height: 20px;">TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.</span></div>Guga Pierobomhttp://www.blogger.com/profile/11318015753017981992noreply@blogger.com1