domingo, 29 de maio de 2011

Fazendo as Contas


Se nós, homens, imaginarmos o casamento como uma empresa de fins lucrativos (onde o prazer e a felicidade são produtos com alto valor de mercado, estando acima, inclusive, da moeda), e pusermos no papel uma equação matemática para calcular o balanço patrimonial, nem sempre o resultado será positivo. A variável é a mulher.

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O Ernesto queria comprar uma mesa de sinuca para pôr na garagem. Antes de falar com a esposa sobre o assunto, foi às lojas pesquisar os preços e, quando voltou para casa, estava armado com uma dezena de orçamentos e o planejamento estratégico em mente.
Dalva estava lavando a louça, então Ernesto deu início a primeira parte do seu plano: a conquista. Chegou por trás da esposa aplicando-lhe um beijo na nuca, fazendo carinhos, e pôs-se prontamente a secar os pratos recém lavados.
— Iiih — desconfiou Dalva. — O que você está querendo?
— Hã? Eu... nada.
— Não me enrola, Neto. A última vez que você decidiu ajudar nos trabalhos domésticos foi quando quis comprar uma TV nova, então vai falando, vai.
— Bem, eu... eu... pensei em comprar uma mesa de sinuca.
— Nem pensar!
— Mas amor, vai ser legal. Posso chamar o Cláudio de vez em quando para jogar, enquanto você fofoca com a mulher dele.
— Vai me chamar de fofoqueira agora, é?
— Amor... sejamos realistas. Além disso, enquanto eu estiver jogando a TV é toda sua.
— Mas Neto, quanto vai custar isso?
— Bem, eu fiz uma pesquisa e encontrei a que eu quero por mil e seiscentos: tampo de mármore, madeira de lei, já vem com um conjunto de tacos e bolas, uma beleza!
— Mil e seiscentos?! Não, Neto, não dá. Estamos economizando para comprar um carro novo, você sabe.
Ele sabia. Mas estava preparado para aquela resposta.
— Calcule comigo — começou ele —, quanto tempo demoramos para economizar mil e seiscentos reais?
— Três meses.
— Exato, três meses. E quanto tempo levará ainda para comprarmos o carro?
— Dois anos.
— Isso, dois anos, então veja só: prefiro esperar mais três meses além dos dois anos para comprar o carro, e comprar minha mesa de sinuca agora, do que deixar para comprar a mesa só depois do carro, o que levaria dois anos e três meses.
— É, a lógica é boa — concordou Dalva. — Então...
— Então?
— Então, seguindo esta lógica, poderemos usar esse dinheiro para comprar uma secadora de roupas, que faz muito mais falta que uma mesa de sinuca.
— Como faz mais falta? Eu não lavo roupas!
— E eu não jogo sinuca!
— Mas você poderia começar a jogar. Te garanto que com um pouco de treino você ganha até do Rui Chapéu.
— E você poderia começar a estender a roupa no varal. Te garanto que com um pouco de treino sua coluna fica tão dolorida quanto a minha.
Para aquilo ele não estava preparado, mas não entregaria os pontos tão facilmente.
— Eu paro de fumar — mentiu. Sabia que quando a mesa estivesse comprada, não daria a primeira tacada sem estar com um cigarro na boca.
— Pára mesmo?
— Claro que paro! Olha só: eu gasto cem reais por mês em cigarros, então se eu parar de fumar e comprar a mesa agora, ele se auto-pagará em dezesseis meses com a economia dos cigarros.
— Ótima idéia! Pare de fumar e compramos a secadora.
— Deus, não! Não vou me sacrificar para comprar uma secadora. Sacrifique-se você. Sei lá... pare de ir ao cabeleireiro.
— Neto, não vamos comprar uma mesa de sinuca e ponto final! Aliás, se você quiser comprar, venda seu carro velho, assim sobra mais espaço na garagem para o novo.  
— Eu vender meu Opalão? Aqui, ó!
— Então nada de mesa de sinuca.
Teria que tomar uma atitude de Homem (sim, com H maiúsculo). Era agora ou nunca.
— Quer saber? Vou comprar a mesa e não se fala mais nisso!
— Tudo bem, se comprar não tem mais sexo.
— Pô, mas assim é covardia.

Ernesto, vencido e cabisbaixo, acomodou-se no sofá, cerveja na mão, e se pôs a pensar no divórcio. O que poderia haver de ruim na vida de solteiro? Poderia beber e fumar à vontade. Poderia chegar em casa à hora que bem entendesse. A roupa era só deixar na lavanderia, sem falar na mesa de sinuca que colocaria na sala, ao invés da garagem. Sexo? Não era tão feio a ponto de não conseguir uma transa de vez em quando, além disso, sempre existiriam prostitutas. Era só pegar o carro e... Ah, o carro! O bom e velho Opala 87, único dono, impecável, sem um arranhão... estava no nome dela. Se queria o divórcio, adeus Opalão.
— Amor, pensando bem, você precisa mesmo de uma secadora...