quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Algo em Comum

TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Final Feliz

© 2009, by Gustavo Pierobom

Ele estava sentado no sofá da sala tendo como companhia uma garrafa quase vazia de uísque e suas recordações. Ainda podia vê-la: com seus olhos azuis e cachinhos dourados arrastando a boneca esfarrapada pelo carpete. “Papai, você vai me levar ao parque hoje?” Mas ele não podia. Sempre tão ocupado com seus malditos livros. Se pudesse prever o futuro nunca teria escrito o primeiro romance, preferia ter ficado o resto da vida lecionando literatura na escola pública, ganhando aquela miséria. Não haveria nenhum luxo e nem carros do ano, mas... Pro inferno! Pelo menos haveria tempo para levar a pequena Amanda ao parque, pelo menos ela ainda estaria ali com ele.

Uma lágrima percorreu seu rosto parando em seus lábios, ele sentiu o gosto amargo da dor e o dissolveu com outra dose de uísque. Adormeceu...

A pequena Amanda sentia-se entediada da maneira mais pura que uma criança de cinco anos poderia sentir-se. Ela não queria mais ficar em seu quarto lotado de tantos brinquedos que já tinham perdido a graça. Queria mesmo brincar com o papai no parque. Olhar os patinhos nadando no chafariz enquanto tomava sorvete, andar de balanço ou descer correndo pelo escorregador. A tia Janice sempre a levava, mas ela não estava ali agora. “Por que ela não vem brincar comigo aos domingos?” Mas, mesmo assim, não era a mesma coisa. Com o papai era mais legal. Ele a carregava nos ombros e fazia aquele barulho de cavalinho. Mas fazia tanto tempo que ele não ia com ela. Agora ele só ficava sentado na frente do computador. Nunca tinha tempo. “Será que ele não gosta mais de mim? Por que a mamãe teve que ir para o céu? Se eu tivesse mãe talvez ela pudesse me levar no parque”

A criança abandonou sua boneca no chão do quarto e correu para a sala. Definitivamente iria convencer o pai a levá-la para passear.

— Papai! Papai! Vamos ao parque? Só um pouquinho?

— O papai tem que trabalhar, querida — respondeu sem ao menos tirar os olhos da tela do computador.

— Mas você nunca me leva — choramingou a criança.

— Não se preocupe, amanhã a tia Janice leva você. Deixe-me trabalhar. Depois vamos pedir uma pizza. Que tal?

Amanda voltou cabisbaixa ao quarto, mas enquanto choramingava teve uma grande idéia. Iria só, ao parque. Iria sim. Ela sabia onde ficava, era só andar um pouco e atravessar aquela rua e pronto. Calçou as sandálias e pegou a velha boneca. “Agora só falta pedir ao papai.” Voltou até a sala.

— Papai, posso ir sozinha ao parque? — perguntou a menina numa voz tão baixa, pois sabia que provavelmente a resposta seria não, que o pai não escutou. — Posso? — repetiu, agora em voz alta.

— Pode, pode. — disse o pai impaciente, sem desviar os olhos do trabalho.

— Oba! — e com esse grito de euforia ela partiu rumo à sua aventura.

Em poucos minutos a garotinha já tinha percorrido boa parte do caminho, pois ia correndo pela rua, como sempre fazia com a babá. Mas espere. Agora teria que atravessar a rua, e sabia que era perigoso. Olhou para o sinal que a tia Janice sempre mostrava. “Qual era mesmo a hora de atravessar? Vermelho ou verde?”

O homem foi despertado pelo toque do telefone. Só podia ser o maldito editor perguntando pelo andamento do livro.

— Alô? Sim... Sim... Sim, está pronto... Não, não vou sair de casa. Mande alguém vir buscar amanhã... Está bem... Até mais.

Após desligar o telefone ele olhou para o maço de folhas sobre a mesa de centro. Na capa lia-se: “Final Feliz”. Seu segundo romance, este que havia sido inspirado pela morte da sua amada esposa no parto, e de como um pai e uma filha poderiam viver felizes com a ausência materna. Ao lado do maço de folhas via-se um recorte de jornal de uns meses atrás: “Criança de cinco anos morre atropelada na Rua Carvalho Souza.” Só que este não era o final que ele planejara.

Pegou seu revólver que estava sobre a mesa da cozinha havia semanas, encostou o cano da arma na testa e puxou o gatilho.

Uma bala no crânio... O único final feliz que aquele homem poderia ter.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Perereca Enlatada

Certa vez, em Florianópolis, o Sr. Teixeira, carioca de nascimento, chegava em casa após mais um longo e cansativo dia de trabalho. Um dia daqueles em que só um bom jantar e o jogo do Mengão o fariam esquecer. Pois bem, a sua senhora, a dona Roberta, por incrível que pareça, pois o casamento não ia lá essas coisas, preparou uma refeição daquelas, com tudo o que tinha direito. Depois do jantar, satisfeito, o Sr. Teixeira jogou-se no sofá para assistir ao Fla-Flu, e, imediatamente, a esposa lhe trouxe uma cerveja geladinha, acompanhada de uma tigela de pêssegos em calda. Ao mesmo tempo em que Teixeira levou o primeiro pedaço do doce à boca, o Mengão fez um gol, mas um gol daqueles de saltar da cadeira: o ponta de lança entrou pela direita passando por dois e meteu uma canhota de fora da área, no anglo. Poderia o Sr. Teixeira querer algo melhor? Não, acho que não. Mas, como todo bom brasileiro, sabemos que alegria de pobre dura pouco. No caso do Sr. Teixeira não seria diferente.
O Mengão tomou dois gols em menos de cinco minutos, e o Sr. Teixeira, supersticioso como era, lembrou-se que o seu time tinha feito o primeiro gol no mesmo momento em que ele levava o pêssego à boca. Gritou pela esposa, mas esta não respondeu. Então ele correu para a geladeira servir-se de uma segunda porção de sobremesa. Abriu a lata do doce, mas, para sua surpresa, havia uma perereca boiando junto aos pêssegos. Perereca? Sim, perereca, destas que de vez em quando encontramos no canto do banheiro. Imediatamente ele berrou o nome da sua companheira:
— Roberta!
— O que é amor, o que é? — respondeu ela aparecendo na porta da cozinha.
— O que essa perereca está fazendo dentro da lata de pêssegos?
— Ai que nojo! Não sei, eu apenas abri a lata, servi para você e guardei-a na geladeira. Eu não tinha visto esse bicho aí dentro. Ainda bem que não comi.

Óbvio que o Sr, Teixeira desistiu de comer mais uma pedaço de pêssego, e foi por isso, segundo ele, que o Mengão perdeu de 5x1. No dia seguinte ele, furioso — mais pelo Mengão ter perdido para o Flu do que por ter comido pêssego com perereca —, fez uma denuncia à vigilância sanitária, explicando o ocorrido. Ao chegar ao trabalho naquele dia, fez a besteira de contar para os amigos o que acontecera na noite anterior. E nós sabemos que a segunda pior coisa no mundo é ter que aturar amigo chato debochando dessas coisas, a primeira é o seu time perder para o rival na final do campeonato.

— Aí Teixeira, sua senhora botou a perereca na conserva, foi? — disse o Silva.
Risadas.
— Ei Teixeira, é verdade que sua mulher anda oferecendo perereca com pêssego pelo bairro? — arriscou o Santos.
Risadas.
— Ela cobra pelo pêssego ou vem de brinde com a perereca? — completou o Portela.
Risadas.

E assim foi o dia todo. Bom, já não bastava por tudo o que o Sr. Teixeira estava passando, aconteceu que, alguns dias depois, o caso caiu na mídia e teve grande repercussão. Então toda vez que o Teixeira andava pela rua, sempre tinha um engraçadinho que perguntava pela perereca da sua mulher. Para resumir, já não agüentando mais aquela situação constrangedora, ele acabou com o casamento e voltou a morar com a mãe.
Agora eu só me pergunto se no dia em que acharem um pêssego dentro duma lata de pererecas, irão sair por aí reclamando?

LINK DA NOTÍCIA:
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL841894-5598,00-CONSUMIDOR+ENCONTRA+BICHO+EM+LATA+DE+PESSEGO+EM+CALDA+EM+SC.html

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Lugar Certo, Hora Incerta

TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Quando os Homens São Homens


© 2009, by Gustavo Pierobom



"Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida."
(Blaise Pascal)




6 de junho de 1944, Praia Omaha, França.
Dezenas de soldados estavam amontoados a bordo do LCPV. Além de seus companheiros e das laterais cinzentas do barco, os homens nada podiam ver, pois haviam recebido instruções para ficarem de cabeças baixas. Mas misturados aos ruídos das ondas, os constantes sons das MGs42 e das explosões dos morteiros, revelavam que uma violenta batalha os esperava alguns quilômetros à frente.
— Como viemos para aqui, heim John?
John sorriu.
— Você se arrepende?
— Não — respondeu Eric, balançando a cabeça. E você?
Enquanto refletia sobre a resposta, John olhava para um soldado que vomitava ao seu lado. Outro tentava inutilmente acender um cigarro molhado. John começou então a observar os homens ao seu redor. Alguns choravam discretamente, outros como bebês. Um, mais à direita, orava de olhos cerrados agarrado a seu crucifixo. Mais à frente o Sargento Black contemplava, nostálgico, uma surrada fotografia de sua família. John ficou se perguntando se Black tornaria a ver a família. Se ele próprio voltaria a ver a dele. Quase todos os demais tripulantes usavam seus capacetes para tirar a água que se acumulava no interior do barco. Estavam todos gelados e molhados até os ossos, mas, pior do que isso, era o temor e a incerteza se voltariam vivos para casa. John percebeu então que não sabia a resposta para a pergunta do amigo. Daqui a pouco provavelmente estaria morto, mas tentaria matar o maior número possível de nazistas. Ele era judeu, e há várias noites era atormentado pelo mesmo pesadelo, onde seus pais e sua irmã caçula estavam ajoelhados e amarrados nus numa sala escura, e Adolf Hitler assassinava um a um com um tiro na cabeça, enquanto ele estava parado ao lado de fuzil em punho, tentando puxar o gatilho, mas seu dedo não respondia.
— QUARENTA SEGUNDOS PARA O DESMBARQUE! — gritou o comandante da embarcação. — DESOCUPEM A RAMPA!
Os soldados que encontravam-se na parte frontal da embarcação recuaram aglomerando-se com os outros. Todos pegavam suas armas e quilos e mais quilos de equipamentos. O Capitão Goodrick gritou suas últimas instruções:
— EVITEM OS BURACOS DOS MORTEIROS! TOMEM CUIDADO PARA A AREIA NÃO EMPERRAR AS ARMAS! MOVIMENTE-SE RÁPIDO E SEPARADAMENTE, LEMBREM-SE: UM GRUPO DE CINCO HOMENS É UM PRATO CHEIO, UM ÚNICO HOMEM É DESPERDÍCIO DE MUNIÇÃO! RAPAZES, VÃO COM DEUS. NOS VEMOS NA PRAIA!
John e Erick trocaram um olhar de entendimento, era como se dissessem um ao outro: “Sairemos dessa juntos.”
A pesada tampa frontal da embarcação arriou, e quase ao mesmo tempo em que tocou a água, os oito primeiros soldados tombaram, estilhaçados pelos enormes projéteis das MGs42 que eram disparados pelos alemães de dentro do bunker duzentos metros praia à cima. Os homens, apavorados, tentando de toda forma descer do barco, seguiam sendo feitos em pedaços como se fossem folhas de papel.
— DEÇAM PELOS LADOS! — gritou o Capitão Goodrick dois segundos antes duma bala explodir em seu tórax.
Imediatamente os soldados jogaram-se na água pelas laterais da embarcação. Eric foi para o fundo, arrastado pelo peso de seu equipamento. No silencio subaquático, enquanto tentava desesperadamente livrar-se do seu equipamento, ele via as balas cortarem a água atingindo seus companheiros. Tateando no escuro ele, finalmente, conseguiu encontrar a baioneta do seu fuzil. Utilizou-se dela para cortar a corda que prendia o equipamento, e, livrando-se do peso, conseguiu subir à tona. Tornou a ouvir a horrível trilha sonora da guerra: homens berrando de dor ou desespero, morteiros explodindo aqui e ali, e a incansável bateria de disparos das metralhadoras. Nadou com dificuldade até a praia. Tocando a areia, correu em direção a um dos grandes arcos de ferro instalados pelos alemães com objetivo de evitar que os tanques e veículos inimigos penetrassem na encosta. Dentre as dezenas de soldados que eram atingidos a toda hora, um que corria a seu lado, fora acertado no joelho. Eric o agarrou pela gola da farda e o arrastou consigo. Após andar alguns metros uma ensurdecedora explosão dum morteiro ao seu lado fez com que uma grande camada de areia se erguesse do chão e depois caísse em forma de chuva. Ele notou que o peso que carregava diminuíra, olhou então para trás e notou que estava carregando apenas meio homem, este havia sido partido em dois pela explosão anterior. Soltou-o ali mesmo e, alguns metros adiante, conseguiu finalmente alcançar o improvisado abrigo.
John estava chegando à praia, viu dezenas de homens mortos à sua volta. O sangue havia tingido de vermelho o mar, que agora parecia um pequeno poço onde Deus lavava um corte profundo. Desprovido de armas e equipamentos, John correu em direção a um dos arcos de ferro. Após andar por poucos metros, sentiu um violento impacto no ombro direito e sua visão girar 180 graus pouco antes de bater de costas no chão e ficar olhando para o cinza escuro do céu. O projétil havia lhe partido a clavícula. Suportando a dor como pôde, arrastou-se por doze metros até ficar protegido atrás dum dos arcos de ferro. Esgotado e começando a sentir tonturas devido à perda de sangue, ficou imóvel, deitado na areia enquanto observava um homem dois metros a seu lado, tentar recolocar no corpo suas tripas enquanto berrava feito um bebê, chamando por sua mãe. Pouco a pouco tudo começou a ficar escuro para John, aquele barulho horrível foi diminuindo vagarosamente até que ele perdesse os sentidos.
Eric havia conseguido avançar mais um pouco. Estava quase chegando ao banco de areia onde estava o arame farpado que cercava o campo minado em torno do bunker alemão, quando viu o Sargento Black, que já se encontrava lá com mais alguns homens, gritar para que alguém trouxesse os bangalores. Eric arrastou-se alguns metros até que chegasse perto o suficiente para que o Sargento o ouvisse.
—SARGENTO! — gritou. — SARGENTO BLACK!
— O QUE É MILLER?
— EU VOU ENCOTRAR OS TUBOS BANGALORES! ESPERE UM MINUTO!
— OK, MILLER. MAS ANDE RÁPIDO COM ISSO!
Eric Miller arrastou-se por dezenas de metros em meio aos corpos dos seus companheiros mortos. Perguntando aqui e ali para os que ainda estavam vivos, pouco depois, conseguiu encontrar, dentro de uma cratera aberta por um morteiro, um soldado do batalhão de engenharia.
— VENHA COMIGO, PRECISAMOS ABRIR UMA BRECHA PARA CONTORNAR O BUNKER.
— VÁ SE DANAR! DAQUI EU NÃO SAIO!
— ENTÃO ME DÊ SEU EQUIPAMENTO.
Sem responder o homem o entregou a pesada mochila. Eric abriu-a e retirou os tubos explosivos que estavam enrolados num pedaço de lona verde. Novamente arrastando-se, voltou até onde estava o Sargento Black.
— PORRA MILLER! ACHEI QUE NÃO VOLTARIA MAIS! TROUXE OS TUBOS?
Eric alcançou os tubos explosivos para os outros que, em seguida, montaram-nos e os posicionaram por baixo da cerca. Quando acenderam o estopim, alguém gritou:
— FOGO NO BURACO!
O aviso foi repetido por alguns homens. Todos se abaixaram protegendo as cabeças. A explosão elevou uma densa camada de terra e fumaça, a cerca havia se partido e a brecha para eles entrarem estava feita. Eric acompanhou os quatorze homens liderados pelo Sargento Black através dos pequenos bancos de areia sob uma chuva de balas. Dois homens foram atingidos antes que o grupo chegasse até a parede frontal do Bunker. Vinte metros acima deles, pela abertura do Bunker (que também era chamado de “ninho”, as três metralhadoras Mgs42 continuavam a massacrar seus companheiros que ainda desembarcavam.
— Precisamos agir rápido, rapazes — disse, sem precisar gritar, o Sargento Black. — Eles estão acabando conosco.
Para contornar o Bunker e entrar pela parte de trás, eles precisavam passar na linha de fogo de duas MGs42 e um morteiro que estavam armados no alto de um morro a cinqüenta metros deles.
— Ok, ok, é o seguinte: Estão vendo aquela cratera ali adiante? — perguntou Black, apontando um enorme buraco causado por uma bomba. Alguém correrá até lá como chamariz. Quando os disparos começarem, quatro de nós irão atirar nos desgraçados. O’Rourque, Tomason, Briggs, vocês três comigo. Quem irá de isca?
— Eu senhor — ofereceu-se, Eric.
— Ok Miller. Quando eu disser... Está pronto? AGORA!
Eric saiu correndo o máximo que pôde. Imediatamente uma chuva de balas caiu sobre si. Eram doze metros até a cratera, mas, para ele, pareceram doze quilômetros. O Sargento e os outros saíram à descoberto e investiram seus tiros contra os inimigos. Eric chegou à cratera e jogou-se como que fosse mergulhar em uma piscina. As balas dos soldados atingiram os homens no alto da colina. Tudo acabou bem.
O pequeno grupo contornou o bunker passando por algumas trincheiras e abatendo alguns soldados nazistas pelo caminho. Quando chegaram até a entrada do “ninho”, um soldado armado de um lança chamas. Disparou o jato de líquido em combustão para dentro do bunker. Imediatamente sete nazistas, berrando horrorizados e em chamas, saíram voando pela fresta frontal do Bunker, e perderam a vida de encontro ao chão, devido à queda de vinte metros de altura.
Começaram a chegar cada vez mais soldados por ali. O Sargento Black chamou o comando pelo rádio, avisando que aquele setor estava liberado, e podiam chegar a Vierville por ali. Entre os que chegavam, Eric procurava reconhecer no rosto de algum deles, o do amigo John, mas, quanto mais homens chegavam, mais sua esperança diminuía.
— Sargento Black, peço permissão para voltar à praia, senhor.
— O quê? Está louco Miller?
— O John, senhor. Ele não está conosco.
— Muitos não estão, filho... Muitos não estão.
— Eu sei senhor, mas preciso encontrá-lo.
— Não, Miller. Já perdemos homens demais por hoje. É uma ordem!
Inconformado, Eric foi mesmo assim. Precisava encontrar o amigo. Vivo ou morto, não importava. Apenas precisava encontrá-lo. Voltou à praia onde o combate ainda permanecia, embora em menor proporção que antes. Homens ainda desembarcavam sob fogo cerrado, mais a leste. A quantidade de corpos na praia era horrivelmente gigantesca. Eric surpreendeu-se observando um soldado com o braço direito arrancado que, fora de si, procurava seu membro perdido em meio aos cadáveres no chão. Eric temeu então que o amigo tenha tido sorte semelhante. Mas não importava, era seu dever encontrá-lo.
O Sargento Black estava sentado, fumando, com mais alguns homens à beira de uma trincheira, quando percebeu o médico, que enfaixava o ferimento de um soldado a três metros dali, exclamar: “Jesus!”, e sair correndo. Black voltou-se para olhar para onde o médico corria. O soldado Eric Miller chegava mortalmente ferido, carregando o cadáver do seu companheiro John às costas. Só então quando chegou próximo ao grupo que Eric, exausto e à beira da morte, tombou junto com o corpo do companheiro.
O Sargento Black aproximou-se de Eric e o tomou nos braços.
— O que você fez garoto? De que adiantou? Agora perdemos você também. E por quê? Por causa de um homem que estava morto?
Eric, com um abatido sorriso nos lábios e com a voz fraca e trêmula, proferiu suas últimas palavras:
— Sargento, sabe o que John me disse quando o encontrei pouco antes de morrer? Ele disse: “Eu sabia que você viria.”




terça-feira, 11 de agosto de 2009

Beleza Interior

TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA. 

terça-feira, 9 de junho de 2009

Irresponsabilidade

© 2009, by Gustavo Pierobom



— Quantos dedos têm aqui?

Sua visão estava embaçada, tudo girava ao seu redor. Não compreendia bem aquela figura à sua frente, lhe mostrando a mão. O que ele disse mesmo? Estava confuso. Começou a ficar escuro, alguém lhe apertava o peito. O que estava acontecendo? Ainda há pouco estava no parque, brincando com seu filho e... E o que mesmo? Por que estava zonzo? Não havia bebido. Será que o café fez mal?

— Ponham-no na maca. Vamos levá-lo para o hospital. Depressa!

O que ele disse desta vez? Quem o estava carregando? Onde estava o filho? O que diabo estava acontecendo?

Acordou-se com uma sensação de náuseas, sempre a sentira com aquele cheiro de farmácia. Ao ouvir o som constante de um “bip” e notar que estava usando uma máscara de oxigênio, logo entendeu que estava no hospital. Olhou para o lado e viu sua esposa com aparência triste e cansada, dormindo sentada em uma cadeira ao lado.

Uma enfermeira surgiu em sua frente com um sorriso pouco encorajador no rosto.

— Finalmente acordou... Está se sentindo bem?

— Onde está meu filho?

— Procure não pensar nisso agora.

— O que? O que aconteceu? Eu estava com meu filho no parque e de repente tudo ficou confuso. Meu filho está bem?

— Senhor... Procure descansar.

— Mas me diga... O que aconteceu? Eu bebi alguma coisa? O café me fez mal?

— Não senhor... Quem bebeu foi o motorista que os atropelou.

— Atropelou? E meu filho?

— Descanse senhor. Não se preocupe com isso agora.


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Recordações

TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.

domingo, 24 de maio de 2009

Vida Ingrata

TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Alfabeto do sucesso ao fracasso.

© 2009, by Gustavo Pierobom


Antigo anônimo andando assustado.

Belo brilhante buscando bravuras.

Conseguiu celestes cenários, chorando clemências.

Desiludido desertou durante demência.

Estado espiritual, excessos e essências.

Foi forte, foi fraco, forjou-se falência.

Grandioso guerreiro, glorioso ganhou.

Hábil homem, herdou honra, humilhou.

Incomparável, insistiu inquieto, impressionou.

Jeito justo, júbilo, jamais jazerá, jurou.

Lançou lúgubre longe, lutou.

Melhorou mundo medíocre, mas manteve mágoas mortais.

Narciso nato, nomeou notáveis negligências normais.

Oportuno observou oitavado o odioso

Proibido perdão. Por quê? Perfeita

Questão. Querendo qualificar-se querido,

Rebaixou-se ruindo receios, replicou requerendo razões. Recomeçou.

Sobreviveu submisso. Sujeito sem sorte. Sangrou sentindo

Terrível temor transcorrendo, talhando tremendo tormento.

Uivando ultimatos, únicos

Verbos viáveis. Virou vivente vagando vergonhoso, vertendo

Xingamentos

Zangados.   

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Conclusões Precipitadas

© 2009, by Gustavo Pierobom

TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.

O Último Poema

© 2009, by Gustavo Pierobom

TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.

16 Vidas

© 2009, by Gustavo Pierobom



TEXTO RETIRADO PARA REVISÃO, BREVE DE VOLTA.